Jefferson contra-ataca: "Foi uma grande covardia do Gottardo"
Goleiro do Botafogo diz que orientações dadas por gerente de futebol do clube indicavam a liberação da partida diante do Santos, na quarta-feira
Jefferson estava com a seleção brasileira, que enfrentou Argentina e Japão nos últimos dias. Retornou ao Brasil um dia antes da eliminação do Botafogo. Em comunicado à imprensa, o goleiro disse que, desgastado após uma viagem de 26 horas, acertou com a comissão técnica a sua dispensa. Mancini, por sua vez, disse que o esperava na quarta-feira, quando o capitão desembarcou em São Paulo, mas não foi direto para o hotel onde a delegação estava hospedada. Foi direto para o Rio de Janeiro, onde realizou um treinamento na manhã de quinta, no Engenhão, após descansar (confira a linha do tempo no "saiba mais" ao lado).
Nesta sexta-feira, Jefferson concedeu entrevista coletiva logo após o treino no Engenhão. E explicou a situação.
– Todo mundo conhece o meu caráter e o meu profissionalismo, principalmente aqui no Botafogo. Ontem (quinta-feira) foi uma grande covardia da parte do Gottardo, porque em nenhum momento antes da programação ele chegou e disse que precisaria de mim no jogo contra o Santos. Deram indícios de que não contariam comigo. Entregaram-me a programação na Seleção com a volta marcada para o Rio de Janeiro. Quando diz que volto para o Rio, automaticamente estou fora do jogo. Em nenhum momento o Gottardo disse que alguém me receberia em São Paulo. Aparentemente, eles não estavam contando comigo. Falei por WhatsApp com ele na China, e em nenhum momento ele disse que precisaria de mim. No dia que cheguei aqui, fui surpreendido por um rapaz no aeroporto, que disse que eu estava no jogo. Automaticamente liguei para um membro da diretoria, o Bernardo, e ele falou: "Mandamos e-mail para você". Nem me deram parabéns pelo jogo. Eu não vi e-mail nenhum. Eles têm meu telefone. Depois que vi o e-mail, estava escrito assim: "Botafogo x Santos. Decidimos na terça-feira que você é importante para o grupo e está relacionado para o jogo". O Gottardo disse depois que já estava combinado comigo! Isso foi uma covardia! Tem alguma coisa errada aí. Eu vim para o Rio de Janeiro, o Gottardo nem ligou para o meu celular, ligou para o de um funcionário. Ele falou que estavam precisando de mim no jogo. Expliquei minha situação, e ele me liberou. Passaram-se quatro horas, e ele fala para a imprensa que não falou comigo. Às vezes cobramos da diretoria, faz parte, mas isso foi desleal. Eu conversei com o Mancini, ele viu o outro lado da moeda e meu deu total razão
Jefferson
concedeu entrevista coletiva após o treino do Botafogo nessa
sexta-feira. Goleiro disse que o combinado com o gerente de futebol
Wilson Gottardo é de que ele não jogaria contra o Santos na Copa do
Brasil (Foto: Vitor Silva / SSPress)
O Botafogo se
prepara para enfrentar o Sport neste domingo, às 18h30 (de Brasília), no
Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Para deixar o Z-4 ao fim da 29ª
rodada do Brasileirão, o Alvinegro tem de vencer e torcer por tropeços
de Bahia e Criciúma contra São Paulo e Fluminense, respectivamente, e
derrota do Vitória diante do Cruzeiro.Confira os principais tópicos da coletiva de Jefferson.
Diretoria está batendo cabeça?
É um reflexo do que estamos vivendo. Eu até peço desculpas ao Mancini e ao torcedor, mas o Gottardo tem de assumir que conduziu mal essa situação. Ele pegou a batata quente e jogou na minha mão. Isso foi uma covardia. O duelo sempre vai ter, mas tem que ser justo. Isso foi desleal.
Goleiro treinou normalmente junto com os companheiros no Engenhão, nessa sexta-feira (Foto: Vitor Silva / SSPress)
Valeria fazer um esforço extra, pelo momento que o Botafogo vive?
A questão não é o esforço. Eu sempre fiz esforço pelo Botafogo. Já cheguei pela Seleção de manhã e joguei à noite. Não se pode colocar em questão o carinho que sinto pelo Botafogo, a história que estou tendo aqui. A coisa foi conduzida erradamente, então não se pode colocar na minha conta algo pelo qual não sou culpado. Eu conversei com ele, estava tudo explicado. Ele falou para eu descansar, depois disse à imprensa que não falou comigo. Falou praticamente que fui rebelde, que descumpri a programação do Botafogo. Isso não é justo.
Acha que repercutiu dessa maneira pelo fato de o Tardelli, por exemplo, ter jogado pelo Atlético-MG?
O Tardelli é atacante, se preparou. Em todos os momentos víamos o Tardelli conversando com o pessoal do Atlético-MG. Ninguém sabe, mas o Tardelli, em Dubai, quando ficamos quatro horas e meia treinando, foi para o hotel descansar. Ele estava focado. A questão não é essa. Se tivesse sido comunicado antes, com certeza faria toda a minha preparação. Alongaria no avião, sei lá, caminharia, me prepararia melhor. Para mim, ninguém falou nada.
Acha que foi uma forma de represália por causa de suas declarações sobre a diretoria no jogo contra o Grêmio?
Acho que isso não aconteceu por má-fé. É uma responsabilidade muito grande ser dirigente, e você tem que estar preparado para isso. Ele tinha que ter falado que não fui comunicado. Tem de ter humildade para falar. Eu peço desculpas ao Mancini e ao Botafogo por não ter ido para o hotel, mas ele (Gottardo) tem de ter a humildade para falar que não conduziu bem isso.
Como os jogadores reagiram a isso?
Todos me mandaram mensagem, força, apoio, falando que estavam comigo. Muitos disseram até que eu nem precisaria estar me explicando, por tudo o que represento para o Botafogo, por aquilo que fiz. Fico feliz de os torcedores entenderem. Isso não vai manchar a minha carreira. Ontem eu fiquei muito chateado, porque foi uma grande injustiça.
Havia algum acordo pré-estabelecido para você jogar esses jogos com datas próximas às épocas em que você está servindo à Seleção?
Não havia acordo. Esse mal-entendido nunca aconteceu. Em todo momento, pessoas me ligavam. Isso nunca aconteceu aqui no Botafogo. Estavam dando indícios de que não contariam comigo. Só se tivessem dois "Jeffersons" para estarem em dois lugares. Conversei com o Gottardo, e ele não me falou nada, não perguntou se eu estava cansado. Depois do jogo contra a Argentina, muitos jogadores me mandaram mensagem. Ele inclusive mandou, mas não falou nada, se eu ia jogar, se eu não ia jogar.
Boatos de que sairia do Botafogo
De maneira alguma. Eu estou bem focado para tirar o Botafogo da zona de rebaixamento. Fiquei chateado por essa situação apenas.
Diretoria
Quero deixar bem claro que o presidente Maurício Assumpção não tem nada a ver com isso. Pelo contrário. Fiquei feliz de saber que ele está vindo aos treinos, de saber que o representante do Botafogo está nos acompanhando. Começamos juntos e terminaremos isso juntos. Independentemente dos salários ou não. Todas as minhas reivindicações no Botafogo não foram pessoais, foram em prol da equipe, do Botafogo. Eu sei que minhas declarações sobre a diretoria repercutiram. Mas depois os jogadores estavam comentando, o presidente também, e esse era o objetivo. O objetivo de todos ficarem juntos. Fico triste com essas coisas que acontecem. Fico triste pela grandeza do Botafogo, por toda a história que o Botafogo construiu. E fico mais triste por uma situação como essa, em que eu poderia estar dando uma entrevista para falar sobre o próximo jogo, sobre como sair dessa situação, mas estou explicando um mal-entendido.
Espera uma atitude do presidente em relação ao Gottardo?
Não. O mais forte que temos hoje na vida é a humildade e o perdão. Não tem que pagar o mal com o mal. As pessoas têm de reconhecer o erro. Isso é suficiente. Tenho que louvar a atitude do presidente, de estar vindo aqui, de dar as caras. Nós vamos juntos até o fim. Se depender de mim, não tem que mandar ninguém embora, tem que reconhecer que errou. Isso ficou muito chato, por tudo aquilo que representa o Botafogo.
Teve contato com o Gottardo depois?
Achei que ele estaria aqui para conversarmos. Não sei o motivo de ele não estar aqui.
Conversa com Mancini
Ele mesmo ficou até surpreso, pela verdade que falei. Ele mesmo disse: "Te peço desculpas, porque eu deveria ter te ligado. Se eu soubesse disso antes, não falaria nada do que disse à imprensa." A situação foi mal conduzida e pegou a todos de surpresa.
Demissão do quarteto (Emerson, Bolívar, Edilson e Julio Cesar)
É difícil falar sobre isso. A única coisa que posso dizer é que são quatro grandes jogadores, que têm história no futebol. Mas isso acontece. As demissões acontecem no futebol. Somos apenas funcionários do clube. Quem manda é o presidente. Não podemos esquecer tudo o que eles fizeram pelo Botafogo, até mesmo a rápida passagem do Sheik. Mas temos que respeitar a opinião do presidente.
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