Melhor do mundo, neozelandesa aprova dança e habilidade de brasileiras

A neozelandesa Kayla McAlister é uma estrela do rúgbi sevens feminino mundial, mas começou a praticá-lo recentemente. E por causa do Brasil. Depois de o esporte ser anunciado no programa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016, ela deixou a carreira de atleta de netball, esporte famoso em países de colonização britânica, e passou a jogar a modalidade em que o irmão mais velho, Luke McAlister, já era célebre.
Ela entrou na recém-criada seleção feminina da Nova Zelândia de sevens, que conquistou a Copado Mundo e o Circuito Mundial, e ainda foi eleita melhor jogadora do mundo de 2013. Neste tempo, conviveu com as atletas da Seleção Brasileira, que também se prepara para disputar as Olimpíadas de 2016.
Nesta semana, ela visita pela primeira vez o País que a motivou a jogar rúgbi para disputar a etapa de Barueri do Circuito Mundial, a terceira da temporada 2013-2014, em 21 e 22 de fevereiro. Do Brasil, conhecia pouco, apenas a habilidade das atletas locais e também seus passos de dança no vestiário, como contou nesta entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.net. Na chegada, se assustou com os engarrafamentos de São Paulo e as motocicletas passando em alta velocidade entre os carros.
Além dos passos ensinados pelas jogadoras brasileiras, Kayla e o resto da equipe se esforçam para aprender os movimentos do haka. A dança, herança dos maoris, se tornou popular mundialmente com os All Blacks, apelido da seleção masculina da Nova Zelândia de rúgbi da qual seu irmão fez parte. Eles utilizam os movimentos coreografados como forma de intimidação a adversários antes dos jogos.
Gazeta Esportiva.net: Você jogava netball, mas há pouco tempo se tornou jogadora de rúgbi. Por que mudou de esporte já adulta? 
Kayla McAlister: Eu joguei netball pelos últimos 16 anos, mas um ano e meio atrás foi anunciado que o rúgbi sevens seria um esporte olímpico. Então a seleção da Nova Zelândia percorreu o país procurando por atletas, não necessariamente jogadoras de rúgbi, mas também de outros esportes, para começar a trabalhar. Sou bastante privilegiada de fazer parte da primeira seleção feminina, vamos progredir a partir daqui. Acho que por ser um esporte olímpico vai atrair os mais novos.
Gazeta Esportiva: E o que tem achado do esporte? 
Kayla: 
É ótimo, é um grande esporte para mulheres. O ano passado foi o começo, ainda estávamos aprendendo, ainda estamos aprendendo. Este é o primeiro grupo de meninas e jogamos a primeira edição do Circuito Mundial, no ano passado. Foi muito bom, tudo era um desafio. E em seis meses eu viajei mais do que em toda a minha vida. Fui a muitos lugares diferentes, isso é incrível.
Gazeta Esportiva: A introdução do rúgbi sevens no programa olímpico pode ser um impulso para as mulheres? O Circuito Mundial feminino foi criado apenas na temporada passada, por exemplo. 
Kayla: 
É um esporte estabelecido para os homens, mas para as mulheres é algo novo, é animador. Na Nova Zelândia há muitas garotas novas e até mulheres mais velhas jogando. É muito bom, as Olimpíadas são o principal evento esportivo do mundo, o ápice. Então é ótimo.
Gazeta Esportiva: E como tem sido a recepção do público neozelandês, que é grande fã de rúgbi, a esse time? 
Kayla: Ainda é algo novo. Tivemos uma temporada boa, então agora temos muito mais apoio e muito mais gente está sabendo do time. Acho que entre as meninas também, as atletas. No ano passado, no Nacional tivemos dez times e esse ano já são 12, e está ficando mais físico, mais desafiador, o que é ótimo.
Gazeta Esportiva: Isso significa que vocês são famosas já? Há assédio quando saem na rua? 
Kayla: 
Não, não. Ainda não somos como os All Blacks, é algo muito novo. Existe há apenas um ano. Algumas pessoas até nos reconhecem, mas não quando saímos na rua. Ainda.
Fernando Dantas/Gazeta Press
Kayla McAlister começou a jogar rúgbi para estar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016
Gazeta Esportiva: Mesmo sendo nova no esporte, você ganhou o prêmio de melhor jogadora do mundo em 2013. Te surpreendeu um sucesso tão rápido? 
Kayla: 
Eu não esperava de jeito nenhum. É até bem legal. Foi depois da Copa do Mundo, que a Nova Zelândia ganhou também. E a Portia Woodman [sua companheira de time] foi eleita melhor jogadora do torneio. É bastante especial, tive a sorte de ganhar o prêmio por todo o trabalho duro que fiz nos seis, oito meses anteriores. Foi também para o time. Eu receber o prêmio de melhor jogadora reflete nas minhas irmãs e na equipe de gerenciamento. Mas isso foi ano passado, já passou, esse é um ano novo.
Gazeta Esportiva: A Seleção Brasileira também disputa o Circuito Mundial e jogará as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Você a conhece? 
Kayla: Na maioria dos torneios, temos que dividir o vestiário com outra equipe e pegamos o Brasil algumas vezes. As meninas são também ótimas dançarinas e cantoras. Algumas delas nos seguem nas mídias sociais e vice-versa, é um bom grupo de meninas. E elas têm alguns kiwis [apelido para neozelandeses] como técnicos também.
Gazeta Esportiva: E como adversárias? O que pode dizer das brasileiras? 
Kayla: 
Elas são habilidosas. Em Dubai, em novembro, fizemos um amistoso antes do torneio e o Brasil tem algumas meninas rápidas e outras grandes e fortes. Elas têm um futuro animador aqui.
Gazeta Esportiva: Uma coisa sempre associada no Brasil ao time da Nova Zelândia de rúgbi é o haka. Vocês também fazem? 
Kayla: 
Nós fizemos o haka no ano passado na Copa do Mundo da Rússia, mas éramos apenas 12, com algumas garotas novas porque nosso time muda a todo torneio. Não somos sempre as mesmas 12. Ainda estamos aprendendo, tivemos apenas um ano, não está muito certo ainda. Já sabemos as palavras, ainda não completamente os movimentos. Mas estamos treinando todo dia.
Gazeta Esportiva: A Confederação Brasileira de Rúgbi aposta no crescimento da equipe para tentar disputar medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016. Acha que isso é possível? No ano passado, a Seleção encerrou o Circuito Mundial em nono. 
Kayla: 
Ainda é 2014, faltam dois anos para as Olimpíadas. Todos os países vão crescer, mas com o seu país por trás e a torcida apoiando, você pode chegar ainda mais alto. Acho que elas formam um grande time e vão se esforçar muito.
Gazeta Esportiva: O rúgbi não é tão popular aqui como na Nova Zelândia. O que você consideraria importante para mudar isso no Brasil? 
Kayla: 
É um pouco diferente. Na Nova Zelândia, você precisa de mais ou menos uma hora de voo para atravessar o país e não temos 16 milhões de pessoas em uma cidade [risos]. Mas é seguir um programa, começar com os mais jovens para já praticarem na escola. Eles podem treinar passes, isso é o básico do rúgbi. Pegar a bola e passar, sem isso você não consegue jogar. Isso ajuda e ter também um programa de desenvolvimento. Na Nova Zelândia, quanto mais nós jogamos e rodamos o mundo, mais pessoas se envolvem. É um pouco dos dois. Ter um bom programa e também expor o esporte.
Fernando Dantas/Gazeta Press
Jogadora neozelandesa ganhou o prêmio de melhor do mundo na temporada passada
Gazeta Esportiva: Quando você começou no rúgbi, acha que existia alguma expectativa sobre seu desempenho por seu irmão ter jogado nos All Blacks? Kayla: É, isso acontece, as pessoas falam. Provavelmente isso seja maior internacionalmente do que em casa, mas não coloco essa pressão sobre mim. Meu foco é atacar cada torneio, cada treinamento, cada jogo, e fazer o melhor que posso. E ficarei orgulhosa com isso. É um pouco de pressão, mas ok.
Gazeta Esportiva: E como é sua relação com seu irmão? Vocês conversam sobre o esporte? Ele te dá dicas? 
Kayla: 
O rúgbi estava em minha vida, mas não tanto quanto agora que estou realmente jogando o esporte. Estava acostumada a ver e é bem diferente de quando você está em campo. Ele me ajuda, assim como o meu pai. Ele mora na França, então fica me mandando mensagens o tempo inteiro, assiste aos jogos e me dá dicas. Ele realmente me apoia, está bastante orgulhoso. Quando tive a oportunidade de jogar, ele foi um dos que falou que eu deveria tentar com todas as forças.
Gazeta Esportiva: Você disse que desde que entrou na seleção da Nova Zelândia conheceu mais lugares do que no restante da sua vida. Como é a rotina de viagens? 
Kayla: 
No ano passado viajamos muito e antes de fazer isso você não sabe como é duro. E provavelmente viajamos mais do que todos os outros times porque ficamos bem ali embaixo no mapa. Então viajamos umas 24 horas toda vez. Mas tomamos conta de nossos corpos, de nossa pele. Temos máscaras de hidratação, bebidas, tentamos fazer o máximo possível para preparar nossos corpos para os fusos horários. Isso é provavelmente o mais duro. Estamos aqui agora, e em casa deveríamos estar dormindo ou comendo. Seu corpo precisa se ajustar, mas tivemos um ano de aprendizado e temos o controle agora. Mas comer e dormir direito nos fusos horários é o pior.
Gazeta Esportiva: Você já conhecia alguma das outras jogadoras antes da seleção? 
Kayla: 
Não, todas nós fomos para um acampamento, eram 50 meninas. Algumas novas, outras velhas. Éramos completas estranhas e agora somos como irmãs. Só há 12 aqui, mas há mais ou menos 30 na Nova Zelândia. Sempre que vamos a um acampamento de treino, há um grupo grande porque algumas entram e saem, lesões acontecem. A diferença entre nós e outros países é que nossa cultura é muito familiar, nós realmente jogamos umas pelas outras e por nossa comissão técnica.
Gazeta Esportiva: Vocês costumam se referir a vocês mesmas como irmãs. É esse o sentimento real? 
Kayla: 
Sim, quando estamos em casa nos ligamos, basicamente morreríamos umas pelas outras. Somos irmãs. Temos uma ligação muito forte. Nos vemos bastante, quase todo dia. Oito de nós estamos em Auckland e tentamos ficar juntas, jogar juntas. A Nova Zelândia é muito familiar, muito sobre amar e tomar conta. E é assim que levamos nosso time.

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