Folha salarial em dia e técnico promissor explicam Caldense na final

Com sete vitórias, quatro empates e nenhuma derrota, a Caldense terminou a fase de grupos do Campeonato Mineiro ocupando a liderança da tabela. A equipe que terminou o estadual de 2014 em oitavo lugar teve grandes mudanças dentro de campo, sendo a menor delas em relação ao elenco e a maior envolvendo a postura e o futebol apresentado. No comando do time que surpreendeu os grandes clubes de Minas Gerais – que empatou com América-MG e Cruzeiro-MG fora de casa, e venceu o Atlético no Ronaldão – o técnico Leonardo Condé, de 37 anos, tinha por objetivo classificar a Caldense para a Série D do Brasileiro. Mas após a sequência invicta na competição, o treinador vislumbra a chance de levantar o caneco e colocar mais um título mineiro – o segundo – na conta de Poços de Caldas.
Léo, como é chamado em Minas Gerais, iniciou a carreira de treinador com apenas 19 anos no juvenil do Tupi, da cidade de Juiz de Fora. Trabalhando com as categorias de base, chegou a passar pelo Atlético-MG, onde teve o primeiro contato com outros dois treinadores com quem cruzaria mais para frente no Campeonato Mineiro: Marcelo Oliveira e Levir Culpi.
“Em 2006, eu era treinador do juvenil do Atlético, o Marcelo Oliveira era treinador dos juniores, e o Levir era treinador da equipe principal. O contato mais próximo era do Marcelo com o Levir e meu com o Marcelo”, contou em entrevista ao site da Gazeta Esportiva.
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Técnico treinou Caldense e Tupi em 2014. Após sair de Juiz de Fora, retornou a Poços de Caldas para conquistar vaga na Série D
A rotina do técnico alvinegro se tornou uma grande referência para Condé, que admite ter absorvido alguns dos ensinamentos do mestre em sua carreira. “Apesar de não termos tanta proximidade, o Levir sempre foi muito gentil e atencioso, e sempre me tratou muito bem. Tive a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho dele, a conduta, o modo de lidar com o jogadores... Cada profissional tem sua maneira de trabalhar, mas é claro que você vai buscando algumas situações que observa em outros bons profissionais. Em relação ao Levir, as observações que fiz no dia a dia, alguma coisa eu aproveitei - colocando da minha maneira, claro. Mas muitas coisas que vi dele no Atlético acabei absorvendo para mim”, disse.
Já à frente do time da Caldense, proporcionou jogos difíceis para os três clubes da capital. Embora o objetivo inicial fosse brigar por uma vaga na Série D, viu a possibilidade de chegar à final após o bom início no estadual.
“No primeiro momento o objetivo era conseguir a vaga para a Série D e depois, quem sabe, brigar por uma vaga na semifinal. A gente teve um inicio muito bom, que deu uma confiança muito positiva pro elenco, quando vencemos o Mamoré na estreia por 6 a 1, e logo na rodada seguinte teve o empate com o Cruzeiro no Mineirão. Foi quando vimos que as coisas podiam se desenvolver para uma boa campanha. Na sétima rodada, quando vencemos o Atlético-MG aqui em Poços por 1 a 0, não só o resultado, mas a postura dentro de campo nos fez visualizar uma forma mais concreta de fazer a semifinal e brigar por uma vaga na final”, explicou.
“Empatar com o Cruzeiro e vencer o Atlético-MG foi algo fundamental para conseguir essa confiança”, avaliou o técnico, com exclusividade.
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Após vencer o Tombense por 2 a 0 no jogo de volta da semifinal, a Caldense garantiu a vaga na final do Mineiro
Gazeta Esportiva.net: No ano passado a Caldense terminou o Campeonato Mineiro em oitavo lugar sob o seu comando. O que mudou na equipe no intervalo de um ano? Foram as contratações, o jeito de jogar?
Leonardo Condé: Quando eu cheguei na Caldense no ano passado, do elenco do ano anterior, de 2013, retornaram apenas 3 atletas e tivemos que contratar 26 jogadores. É normal quando você realiza muitas contratações errar e acertar. Na reta final da competição tivemos muitos problemas com lesões e cartões. Nesse ano, algo que facilitou o meu retorno foi conseguir trazer de volta 11 atletas que já tinham jogado na Caldense. A gente já teve que contratar um número bem menor: ao invés de 26 foram 15. E também pude indicar alguns jogadores que trabalharam comigo no Tupi.
GE.net: Um dos diferenciais da equipe é o atacante Luiz Eduardo, que ficou apenas dois gols atrás de Leandro Damião na artilharia do estadual. Como veio de uma passagem praticamente em branco pelo Boa Esporte, você teve alguma conversa específica com ele?
Leonardo Condé: Para ser sincero, nada muito especifico. Ele é um jogador experiente. O futebol às vezes tem jogadores que se identificam mais com um clube do que com outro. Ele no Boa ficou lesionado logo no início, e isso atrapalhou o rendimento dele lá. Aqui na Caldense, já tinha sido artilheiro do módulo II em 2009, e no ano passado não fez muitos gols, mas fez um bom campeonato mineiro e tem moldado a equipe para trabalhar bastante as jogadas pelas laterais.
GE.net: Quando soube que teria a possibilidade de enfrentar Atlético ou Cruzeiro na final, teve alguma preferência quanto ao adversário da decisão?
Leonardo Condé: Não. Aquele momento ali era pensar na vaga da final, independente de Cruzeiro e Atlético-MG. O Atlético é o atual Campeão da Copa do Brasil e está nas oitavas da Libertadores. O Cruzeiro é bicampeão brasileiro e também está nas oitavas da Libertadores. Os dois são gigantes e tínhamos total consciência de que seriam jogos disputados.
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Luiz Eduardo fez sete gols pela Caldense na primeira fase, sendo vice na artilharia do estadual, atrás de Leandro Damião
GE.net: Você teve um trabalho muito forte à frente das categorias de base de muitos clubes em Minas. Como você aplica isso ao time atual da Caldense? Existe algum incentivo à formação de atletas no clube?
Leonardo Condé: Até que não. O clube tem as escolinhas com varias modalidades, mas o não tem categoria de base. Por isso a dificuldade de quando acaba uma competição precisar contratar vários atletas. Em caso de continuidade aqui no clube, tenho a ideia de tentar montar uma equipe de juniores, porque é algo importante para fornecer novos reforços e manter um bom nível entre os jogadores.
GE.net: A Caldense foi campeã mineira em 2002 com o campeonato desfalcado pelos três times da capital e o Mamoré. Existe uma valorização desta edição do Mineiro em relação a de 2002?
Leonardo Condé: É difícil fazer esse tipo de comparação, foi um momento muito legal que a Caldense vivenciou, sem as equipes da capital e depois no supercampeonato teve um bom desempenho. Hoje o grau de dificuldade acabou sendo um pouco maior, principalmente confrontando as três maiores equipes do estado. Cada equipe tem seu valor, e em 2002 a Caldense tinha uma boa equipe. Claro que, este ano, se vier o título, acaba tendo um peso um maior por ter vencido todos os grandes do estado.
GE.net: A Veterana entra em campo com vantagem do empate, mas o Atlético-MG tem consolidado um estilo de jogo feito ‘na raça’, em cima das viradas tidas como impossíveis. Antecipando isso, como você vem preparando o elenco para esta final?
Leonardo Condé: Tenho conversado com eles que temos que ir por partes. Não adianta pensar no jogo da volta sem o primeiro. O foco é totalmente voltado para a partida no Mineirão. Teremos um adversário qualificado, forte e com o apoio da torcida. Então precisamos usar todas as nossas forças no domingo. O principal é treinar bem, entrar concentrado, focado no jogo. Se ficarmos pensando em muitas coisas, vamos nos trabalhar. Precisamos manter o foco.
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Time da Caldense foi campeão em 2002, embora os três times da capital não tenham participado da competição em funçaõ da Copa Sul-Minas
GE.net: Vocês tinham alguma preferência em relação ao Mineirão ou Independência para a final?
Leonardo Condé: Não altera. O Independência é menor, mas o torcedor está mais próximo do gramado e tira mais a atenção. O Mineirão é maior, mas também é bem difícil. O Atlético está acostumado a jogar varias decisões, então em qualquer circunstância seria uma partida muito difícil.
GE.net: Passado o estadual, como fica o calendário da Caldense no segundo semestre? Já pensou no planejamento para a Série D?
Leonardo Condé: Tanto os atletas como a comissão técnica têm o contrato até o término do Mineiro. Até em razão de ser uma decisão, nosso foco está voltado para esses dois jogos. Após o termino do Mineiro sentaremos com a diretoria para conversar. Como a competição tem início só em julho, vamos discutir quem chega, quem sai, quem devemos contratar... mas isso só depois da decisão. Ainda não podemos ter nenhum planejamento envolvendo nada que não seja o estadual.
GE.net: Você chegou com o intuito de classificar o time para a Série D. Existia um acordo que o garantia na Caldense depois de conseguir a vaga?
Leonardo Condé: A gente tem essa intenção de dar continuidade, tanto da minha parte como da direção. Mas antes não tinha como a gente negociar nada porque a vaga tinha que ser conquistada.
GE.net: É errado supor que a folha salarial inteira da Caldense vale menos que o salário de um jogador mediano do Galo?
Leonardo Condé: É mais ou menos por aí. A grosso modo, - até porque eu não tenho acesso a esses números - a folha deve girar em torno de 160, 200 mil reais. Não sei se um jogador mediano do Atlético ganha isso, um de alto nível deve ganhar mais. Mas é algo normal dentro do futebol. São pessoas que conquistam seus espaços. Eles têm cota de televisão, patrocínio, e cabe a nós conquistar nosso espaço. O importante para os clubes do interior que têm um orçamento menor é fazer o futebol com os pés no chão. A gente vê muita gente no Brasileiro hoje que tem R$200 mil para montar um elenco, acaba gastando R$400 mil e não pode pagar. Neste aspecto, a Caldense é um clube estruturado e tranquilo.
GE.net: Sabe dizer se o clube mantém as contas em dia? Existe algum endividamento?
Leonardo Condé: Sim, ele está com as contas em dia. É um clube que tem a parte financeira boa, não tem ação trabalhista, tem um bom centro de treinamento. Não tem nenhuma ação trabalhista ocorrendo por aqui. Nesse aspecto fico tranquilo em afirmar que é o clube bem estruturado. E mostra que dá para fazer o futebol bom e barato, desde que bem organizado. O que acontece com muitos dirigentes é não se preocupar com sequência do clube e mais com a própria gestão.
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Leonardo Condé (esq) destacou a confiança dos jogadores como fator fundamental na boa sequência do Campeonato Mineiro
GE.net: Uma questão que vem sendo muito discutida é o fim dos campeonatos estaduais. Qual a sua opinião sobre o assunto? Você é a favor da criação de uma liga, desvinculada de qualquer federação? Acha que os clubes deveriam ter maior autonomia?
Leonardo Condé: O campeonato estadual para os clubes de Série A e B acaba atrapalhando um pouco o calendário, mas ao mesmo tempo, através do estadual surgem novos jogadores, novos treinadores. Algo difícil aqui no Brasil é ouvir as pessoas que trabalham com futebol e realizar um ajuste com as datas. Talvez as equipes do interior devessem iniciar um pouco antes a disputa e as equipes maiores entrem ao fim da competição. Algo assim tem que ser discutido. Mas acho que a rebeldia e a criação de ligas divide e cria uma regra politica que não é interessante. Tem que ter um diálogo maior da CBF com as federações e criar um calendário que valorize mais os times do interior.
GE.net: Você disse ter conhecido o Jair Bala no Tupi, de Juiz de Fora. Foi trabalhando? Você chegou a ser jogador lá?
Leonardo Condé: Você está perguntando se fui jogador profissional?
GE.net: - Sim
Leonardo Condé: Não, não fui. Joguei futebol amador na minha cidade e depois comecei a carreira de treinador cedo, com 19 anos, no juvenil do Tupi. Foi lá que conheci o Jair, que era treinador da equipe principal do Tupi.

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