Pioneiro no Maracanã, Bangu torce por Seleção e busca alternativa

Ídolo de Pelé, Zizinho disputou a final da Copa de 1950 diante do Uruguai como titular da Seleção. Quatorze dias depois da traumática derrota, o craque deixou o Maracanã como campeão e fez do Bangu o primeiro clube a conquistar um título no estádio recém-construído. Longe do papel de protagonista, o time suburbano atualmente torce pela vingança do Brasil diante da Celeste na Copa das Confederações, enquanto procura maneiras de coexistir de forma competitiva ao lado dos grandes no cenário nacional.
O Bangu era uma potência do futebol carioca no começo dos anos 1950. Bancado pela fábrica de tecidos do bairro, o time iniciou a temporada com uma excursão invicta pelo Chile – venceu Universidad Católica e Colo-Colo e empatou com a seleção local. Nos dias que antecederam a Copa do Mundo, a equipe enfrentou o Brasil (uma vitória e três derrotas) e a Espanha (uma derrota, em Moça Bonita). Como sinal de seu poderio econômico, tirou Zizinho do Flamengo na maior transação da história do futebol nacional.
O primeiro título de um clube no Maracanã foi o Torneio Início do Campeonato Carioca de 1950. Em jogos de 20 minutos, decididos em cobranças de pênalti em caso de empate, o Bangu venceu Canto do Rio, Botafogo e Olaria. Na final, com 60 minutos de duração, o time da Zona Oeste precisou da prorrogação para ganhar do Vasco por 3 a 2. O campeonato, com regulamento pitoresco, era apenas o aquecimento para o Estadual, mas aquela edição se travestiu de significado especial por conta da recente derrota da Seleção diante do Uruguai na Copa do Mundo de 1950.
“A realização do Torneio Início veio a demonstrar que a torcida carioca não esqueceu o futebol como seu esporte predileto. Aquela grande assistência, que totalizou cerca de 46 mil pessoas, voltou aos campos de futebol da cidade após o desastre de 16 de julho. Os 503 mil cruzeiros arrecadados pelas bilheterias do majestoso Maracanã vieram a provar que não morreu o futebol no Brasil. É de se prever que para os futuros jogos decisivos do certame de 1950 as rendas subirão consideravelmente e as multidões voltarão” noticiou o jornal A Gazeta Esportiva em sua edição do dia 1º de agosto de 1950.
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Com o craque Zizinho no time, o Bangu foi o primeiro clube a conquistar um título no lendário Estádio do Maracanã
O jornalista e historiador Carlos Molinari, autor de três livros sobre o Bangu, considera o período um dos mais prolíficos da agremiação fundada em 1904. “O clube vivia seu auge em termos patrimoniais e de atletas. Atualmente, você não imagina o Bangu jogando nem contra o Taiti, mas naquela época a equipe tinha condições de levar público ao Maracanã e vencer qualquer adversário. Era um Bangu gigante. Pode-se dizer que o título do Torneio Início de 1950 representou a volta da normalidade depois da hecatombe da final da Copa do Mundo”, explicou.
O Bangu já havia conquistado o título do Campeonato Carioca de 1933, o primeiro do profissionalismo, e, impulsionado pelo investimento do bicheiro Castor de Andrade, ganhou o estadual em 1966 e foi vice brasileiro em 1985. Bicampeão mundial com a Seleção Brasileira em 1958 e 1962, Zózimo vestiu 466 vezes a camisa da agremiação famosa pela passagem do clã Da Guia – além de Domingos e Ademir, atuaram Ladislau, Médio e Luiz Antônio, entre outros. Em 1960, o time venceu o Torneio de Nova York, considerado por alguns como uma espécie de Mundial de Clubes.
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Jorge Varela ocupa a presidência do Bangu
Sem o mecenas Castor de Andrade, o Bangu perdeu relevância no cenário nacional e se acostumou ao papel de coadjuvante. Depois de ficar na 11ª colocação do Campeonato Carioca-2013, o time suburbano se prepara para participar da Copa Rio. O campeão do torneio, com início previsto para agosto, pode escolher entre disputar a Copa do Brasil ou a Série D do Campeonato Brasileiro de 2014, enquanto o vice garante presença na competição preterida pelo algoz. Jorge Varela, presidente do Conselho Diretor do clube e homem forte do futebol, planeja valorizar a base.
“Neste ano, estamos fazendo algumas alterações e vamos jogar principalmente com os atletas da casa. Temos em torno de 16 jogadores que pertencem ao clube e queremos colocar todos em atividade, além de trazer outros para compor o elenco”, disse. Segundo Varela, o orçamento para o futebol em 2013 foi inferior a R$ 1 milhão. Ainda assim, ele tem o objetivo de ver o Bangu de volta ao Campeonato Brasileiro, já que a CBF passou a subsidiar parte das despesas dos times nas Séries C e D. “Seria muito interessante ter mais um clube tradicional do Rio de Janeiro no torneio”, completou.
Uma das saídas imaginadas pela diretoria para oxigenar as finanças é reformar o acanhado Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho, mais conhecido como Moça Bonita, com capacidade para 15 mil pessoas. A interdição do Engenhão, aliada ao alto custo que deve envolver uma partida no Maracanã nas mãos do consórcio integrado pelo empresário Eike Batista, faria do local uma boa alternativa para os clubes do Rio de Janeiro. No começo de junho, o prefeito Eduardo Paes chegou a falar publicamente sobre a possibilidade de remodelar a casa do Bangu, ideia que agrada ao presidente.
“Teríamos um estádio pequeno, mas suficiente para receber jogos do Carioca, do Brasileiro e até da Libertadores. Seria uma alternativa intermediária para o Rio de Janeiro, além do Engenhão (45 mil lugares) e do Maracanã (70 mil). Financeiramente, seria bom para o Bangu e, com um aluguel mais barato, também para os outros clubes”, disse Varela, antes de revelar um problema burocrático. “O Bangu está aqui há mais de 60 anos, mas o estádio ainda consta como se pertencesse à Fábrica Bangu. Essa questão está sendo solucionada na Justiça para que possamos pensar na reforma”, disse.
Bruno Ceccon/Gazeta Press
Uma das alternativas estudadas pela diretoria do Bangu é promover uma reforma no acanhado Estádio Moça Bonita
O jornalista e historiador Carlos Molinari chegou a atuar como diretor de patrimônio histórico do clube de 1999 a 2001, mas atualmente se opõe à gestão encabeçada por Jorge Varela, no poder desde 2007. O escritor enxerga o dirigente como um títere de Rubens Lopes da Costa Filho, atual presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e ex-mandatário do próprio Bangu. Cético, ele descarta a possibilidade de ver o time de coração recuperar terreno no cenário nacional sem uma mudança profunda na atual diretoria.
“O abismo financeiro é cada vez maior, praticamente irreversível. Quanto é o faturamento anual do Flamengo hoje em dia?”, questiona, antes de citar a parte diretiva. “O Bangu é um feudo. Quem está no comando representa os olhos da Ferj dentro do clube. Em qualquer decisão de maior vulto, o Varela tem que consultar o Rubens. O único comprometimento dessas pessoas é permanecer na primeira divisão do Carioca para não perder a verba da televisão. Ninguém vai querer investir em um clube que é uma caixa preta. No futebol moderno, não tem como repetir o que já foi”, sentenciou.
Com mandato até 2014, Varela nega que o Bangu sofra qualquer tipo de ingerência ou privilégio por conta da ligação de Rubens Lopes com a agremiação. “Atualmente, ele é presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. É o presidente de todos os clubes. Temos que saber diferenciar. Ele nem vem ver os jogos em Moça Bonita. O presidente tem a posição dele e sabe se colocar. Deve tratar todos os clubes da mesma maneira, e é isso que faz”, afirmou o mandatário. “É mais fácil sermos prejudicados do que beneficiados pela arbitragem”, acrescentou.
Bruno Ceccon/Gazeta Press
O ex-ponta direita Marinho, com passagem pela Seleção Brasileira, torce pelo sucesso do time dirigido por Felipão
O ex-ponta direita Marinho é um elo entre o mais recente ciclo vitorioso do Bangu e o momento atual vivido pelo clube. Convocado pelo técnico Telê Santana para defender a Seleção Brasileira em 1986, ele foi o último atleta do time suburbano a vestir a amarelinha. Às 16 horas (de Brasília) desta quarta-feira, em Belo Horizonte, a equipe comandada por Luiz Felipe Scolari enfrenta o Uruguai em busca de uma vaga na decisão da Copa das Confederações, com o apoio incondicional do antigo jogador.
“O Brasil já tem um time muito forte, mas ainda precisa melhorar bastante coisa antes de disputar o Mundial de 2014. Na Copa das Confederações, acho que o time chega à final, porque sempre cresce jogando contra as principais seleções do mundo. Estou torcendo”, disse Marinho. Se passar pelos algozes da final de 1950, a equipe nacional voltará ao Maracanã para jogar a final do torneio contra o vencedor do duelo entre Espanha e Itália. Sessenta e três anos depois, Neymar tentaria repetir o feito de Zizinho e seus companheiros de Bangu.

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