Supremacia recente vascaína esconde equilíbrio histórico de clássico com Flu
Há 10 jogos o Fluminense não vence o Vasco - são quase três anos. Desde a década de 1990, a supremacia do time de São Januário sobre o Tricolor das Laranjeiras é notável: são 44 vitórias cruz-maltinas contra 22 tricolores - e 24 empates. Um retrospecto recente inimaginável para muitos torcedores que acompanharam as vitórias do Fluminense sobre o rival em finais históricas - e sempre tricolores - nos anos 1970 e 1980. Um deles é personagem marcante nesse confronto: Bismarck, camisa 10 do Vasco do fim dos anos 1980 e início de 1990, que marca justamente a terceira virada da liderança do confronto entre vascaínos e tricolores.
- Nossa, quando eu era menino o Vasco só tomava lambada do Fluminense. A lembrança que eu tenho da minha infância é do meu pai triste para caramba por causa dos confrontos com o Fluminense - lembra, de primeira, Bismarck, que hoje é empresário. - O Vasco estraçalhava o Fluminense, perdia gol para caramba e ia lá o Fluminense e fazia 1 a 0. E todo mundo dizia que o Vasco era freguês do Fluminense. Mas isso mudou, para mim, desde o infantil. Quando a minha geração só ganhava deles. Lembre um pouco da carreira de Bismarck no vídeo acima.
De família de vascaínos, Bismarck, que está com 46 anos e trabalha há 15 com o empresário Jorge Machado, antes de entrar em campo, nem o pai viram o Vasco liderar o retrospecto nos primeiros confrontos. Na década de 1930 até o Expresso da Vitória, time histórico vascaíno, o Flu ultrapassou o Vasco. Nos anos 1960 até a década de 1980, a supremacia retornou para as Laranjeiras. E foi nessa época que o garoto Bismarck, com o irmão e o pai, pôs na cabeça que aquela história ia mudar. De uma fábrica de grandes jogadores de São Januário dos anos 1980, que tinha Romário, Geovani, Mauricinho e muitos outros, o ex-meia-atacante fez um gol histórico contra o tricolor em 1992. Quando o confronto marcava 99 vitórias para cada lado, ele decidiu o clássico do Carioca que levou os vascaínos a voltarem à liderança do duelo após 21 anos.
O ex-zagueiro Duílio estava em campo quando o garoto Bismarck lamentava as derrotas para o rival colado ao pai e o irmão na arquibancada. O Tricolor foi campeão carioca em cima do Vasco em 1973, 1976 e 1980 e também brasileiro em 1984.
- Começamos a ganhar naquela época dos anos 80. Mas aí o grupo foi mudando, jogadores saindo, e o Vasco voltou a ganhar - recorda Duílio, que hoje é técnico de futebol e lamenta a disputa de lado de torcida que impede do jogo deste domingo ser no Maracanã.
- Começamos a ganhar naquela época dos anos 80. Mas aí o grupo foi mudando, jogadores saindo, e o Vasco voltou a ganhar - recorda Duílio, que hoje é técnico de futebol e lamenta a disputa de lado de torcida que impede do jogo deste domingo ser no Maracanã.
Quem viveu de perto "os grupos mudando" e a virada acontecendo novamente foi um ex-companheiro de Bismarck, bicampeão carioca ao seu lado em 1993 - o Vasco venceu o estadual em 1992 e seria tri em 1994. Geovani, o Pequeno Príncipe, desentalou a dor dos vascaínos no dia 13 de março de 1988, ao marcar de pênalti o gol da vitória na semifinal do estadual contra o tricolor, que perderia uma penalidade máxima na mesma partida.
- Peguei as duas épocas, quando perdia e depois começou a ganhar. Lembro desse 1 a 0, gol meu, quando jogamos depois de muito tempo sem a faixa atrás. O Paulo Victor era o goleiro e o time deles era muito bom nessa época. Mas eu tinha sempre engasgado o Fluminense - recorda Geovani, hoje com 51 anos e morando em Vitória, no Espírito Santo.
Duílio, Romerito, Assis e Wilsinho: título de 1984 conquistado em cima do Vasco (Foto: Bruno Haddad/Fluminense FC)
Geovani conta que foi chamado para jogar no Fluminense antes do Vasco, mas um dirigente o recusou pois "ele não tinha condições de jogar nas Laranjeiras, onde havia muitos iguais a ele".
- As melhores partidas de futebol que fiz na minha vida foram contra eles, até quando perdia eu ia muito bem - conta o ex-jogador.
O pênalti do "desespero" para Bismarck
Se Geovani tinha motivo especial para enfrentar o Fluminense, Bismarck lembra bem dos seus últimos momentos vestindo a camisa do Vasco. Campeão brasileiro de 1989, carioca de 1992 e convocado muito jovem para a Copa de 1990 pelo ex-técnico Larazoni, ele chegava para o estadual de 1993 com a certeza de que o ciclo em São Januário estava encerrado. Mas o fim foi tumultuado para Bismarck. Aos 19 minutos do primeiro tempo ele perdeu pênalti na decisão.
Se Geovani tinha motivo especial para enfrentar o Fluminense, Bismarck lembra bem dos seus últimos momentos vestindo a camisa do Vasco. Campeão brasileiro de 1989, carioca de 1992 e convocado muito jovem para a Copa de 1990 pelo ex-técnico Larazoni, ele chegava para o estadual de 1993 com a certeza de que o ciclo em São Januário estava encerrado. Mas o fim foi tumultuado para Bismarck. Aos 19 minutos do primeiro tempo ele perdeu pênalti na decisão.
- Até hoje muito vascaíno me para na rua e fala: "caramba, você perdeu o pênalti em 1993". Aí eu digo, "mas você sabe quem foi campeão?" Aquela decisão foi muito particular, porque sabia que ia sair do Vasco, embora não estivesse negociado. E eu queria muito sair campeão. Em 1990 quando voltei da seleção fiquei seis meses sem contrato, voltei mal e fui muito criticado pela torcida e pela imprensa. Queria sair por cima. Quando perco aquele pênalti eu entro em desespero, foi perturbador aquilo. Mas conseguimos empatar, até na minha lembrança de um dos jogos mais feios do clássico - recorda Bismarck, referindo-se às brigas e confusões daquela final de 1993 no Maracanã.
Se o Flu levou a melhor nos anos 1970 e 1980, o Vasco venceu as finais de 1993, venceu a partida que decidiu o título em 1994 e voltou a passar pelo rival na finalíssima de 2003. No Carioca deste ano, venceu por 1 a 0 e, no primeiro turno do Brasileiro, obteve vitória de 2 a 1. A torcida tricolor pode se apegar também a uma coincidência: a última vitória tricolor foi justamente no Engenhão, no primeiro jogo do Brasileirão de 2012, no Engenhão.
Os jogadores que vivem o calor do clássico hoje tentam ignorar o retrospecto, em discurso parecido dos treinadores das duas equipes. O garoto Gustavo Scarpa, do Fluminense, comenta diretamente o assunto, mas o experiente Rodrigo desconversa.
- Precisamos tentar quebrar esta sina, esta sequência de jogos ruins neste clássico. Sabemos da nossa qualidade e, independentemente do que aconteceu na Copa do Brasil, temos a condição de sair com a vitória - lembrou Scarpa.
- Essa história de retrospecto favorável já caiu. Estamos encarando jogo a jogo. Temos um adversário difícil agora. Os números vão ficar de lado e vai entrar a nossa consciência de que temos de ganhar esses jogos - afirmou Rodrigo.
Vasco x Fluminense por décadas:
2011 até hoje: 16 jogos; 2 vitórias do Fluminense, 5 empates e 9 vitórias do Vasco.
2001 a 2010: 37 jogos; 6 vitórias do Fluminense, 19 empates e 12 vitórias do Vasco.
1991 a 2000: 47 jogos; 10 vitórias do Fluminense, 14 empates e 23 vitórias do Vasco.
1981 a 1990: 42 jogos; 12 vitórias do Fluminense, 15 empates e 15 vitórias do Vasco.
1971 a 1980: 47 jogos; 19 vitórias do Fluminense, 12 empates e 16 vitórias do Vasco.
1961 a 1970: 42 jogos; 15 vitórias do Fluminense, 15 empates e 12 vitórias do Vasco.
1951 a 1960: 39 jogos; 16 vitórias do Fluminense, 7 empates e 16 vitórias do Vasco.
1941 a 1950: 41 jogos; 15 vitórias do Fluminense, 9 empates e 17 vitórias do Vasco.
1931 a 1940: 26 jogos; 14 vitórias do Fluminense, 3 empates e 9 vitórias do Vasco.
1923 a 1930: 20 jogos; 6 vitórias do Fluminense, 3 empates, 11 vitórias do Vasco.
Total: 357 jogos: 115 vitórias do Fluminense, 102 empates e 140 vitórias do Vasco.</b>
(Fonte: WSC Consultoria Esportiva).
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