Falcão se aproxima de Del Nero, e CBF pode assumir a seleção de futsal
Estatuto da entidade máxima do futebol brasileiro permite que ela passe a gerir o esporte a qualquer momento. Reunião nas próximas semanas determinará a mudança
A falta de perspectivas quanto à situação da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) levou os principais jogadores do país a tomarem uma medida drástica. Nas últimas semanas,Falcão e seus pares vêm articulando a entrada da CBF no futsal. A entidade máxima do futebol brasileiro passaria a ser a gestora da seleção do país, já que o item VIII do artigo 5º do seu estatuto permite a retomada do controle do futsal a qualquer momento. Para isso, o grupo liderado pelo camisa 12 se aproximou de Marco Polo Del Nero, que começará o seu mandato à frente da CBF no dia 16 de abril. Endividada e impossibilitada de negociar patrocínios com empresas estatais, a CBFS elege o seu presidente nesta terça-feira, em Fortaleza. Presidente da Federação Mineira de Futsal, Marcos Madeira é candidato único e deve ser eleito por aclamação. Indignados com o rumo político da Confederação, os principais jogadores do país declararam boicote à seleção no último fim de semana.
Falcão lidera o movimento por mudanças no futsal brasileiro (Foto: Luciano Bergamaschi/CBFS)
- Devemos nos reunir com o Del Nero, no máximo, até o dia 20. A CBFS não é homologada pela Fifa. O Brasil é o único país que ainda tem uma confederação de futsal. Todas as outras seleções são geridas por confederações de futebol reconhecidas pela Fifa. A gente tenta que a CBF assuma o futsal de novo e passe a gestão para pessoas que queiram estar ali. E que entendam de gestão, antes de entender de futsal. E que os cargos ligados ao esporte tenham pessoas que conheçam, que vivam, que queiram o bem do esporte - afirmou Falcão.
O grande aliado de Falcão na aproximação com Del Nero é o executivo Sérgio Gomes, um dos diretores da GM/Chevrolet. Amigo do camisa 12 e com boa relação com Del Nero, ele já deixou encaminhado um contrato de patrocínio caso a CBF assuma a seleção brasileira de futsal.
A mudança na gestão da seleção deixaria a CBFS como responsável apenas pelo registro de clubes e atletas e organização de competições nacionais e regionais, sendo que a Liga Futsal - principal campeonato do país - tornou-se uma liga independente desde o ano passado e atualmente se chama Liga Nacional de Futsal (LNF).
Marco Polo Del Nero assumirá a CBF no dia 16 de abril (Foto: André Durão/Globoesporte.com)
Procurada pelo GloboEsporte.com para comentar o assunto, a assessoria de imprensa da CBF informou que vai se pronunciar sobre a questão nesta terça-feira. Marcos Madeira, por sua vez, não atendeu às ligações.
ACORDO DE CAVALHEIROS PERMITIU A CRIAÇÃO DA CBFS
Fundada em 15 de junho de 1979, logo após o fim da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), a CBFS nasceu de um "acordo de cavalheiros" entre João Havelange e Aécio de Borba Vasconcelos, fundador e presidente da CBFS até junho do ano passado, quando renunciou após ser acusado de corrupção e nepotismo. Amigo de Aécio, Havelange - que presidiu a CBF de 1958 a 1975 e a Fifa de 1974 a 1998 - condicionou a criação da nova entidade à possibilidade de a CBF retomar o controle do futsal a qualquer momento, conforme previsto no item VIII do artigo 5º do estatuto da entidade máxima do futebol brasileiro.
Trecho do estatuto da CBF prevê a retomada do controle do futsal a qualquer momento (Foto: Reprodução)
Sediada em Fortaleza, a CBFS vive grave crise política e financeira desde o último ano. Endividada em R$ 6 milhões e impedida de negociar patrocínios com estatais devido à reprovação de um de seus balanços, a entidade cancelou a organização da Copa América, no início do mês, por falta de dinheiro. Por conta da crise, a seleção ainda não jogou em 2015. O próximo Mundial acontece em setembro de 2016, na Colômbia.
Este é o segundo boicote coletivo de jogadores à seleção brasileira de futsal no espaço de um ano. Em março de 2014, Falcão foi apoiado por Neto e Tiago e anunciou que não defenderia mais o time verde-amarelo por problemas de relacionamento com o diretor de seleções, Edson Nogueira. Na ocasião, o jogador aproveitou para divulgar desmandos na administração da entidade, então presidida por Aécio de Borba Vasconcelos. Os principais atletas só voltaram a atuar pela seleção em setembro no amistoso contra a Argentina, no Mané Garrincha, jogo de maior público da história do futsal.
O boicote fez o grupo liderado por Marcos Madeira iniciar uma oposição à diretoria da CBFS. Em maio, Aécio teve a sua primeira derrota política, com a reprovação do balanço financeiro referente ao período entre novembro de 2012 e dezembro de 2013. Incapacitado de negociar contratos com estatais devido à reprovação das contas e envolvido em denúncias, Aécio renunciou em junho.
Marcos Madeira, presidente Federação Mineira de Futsal, é candidato único na CBFS (Foto: Quésia Melo)
Em seu lugar, assumiu Renan Tavares, que antes ocupava o cargo de vice-presidente de competições. Integrante da antiga diretoria, Louise Bedé passou a ocupar a vice-presidência administrativa. Desde então, o grupo vinha sofrendo forte oposição de Madeira, até o mesmo aproximar-se de Louise nas últimas semanas. O fato revoltou os principais jogadores do país, que anunciaram o boicote à seleção caso não haja uma mudança de cenário.
Renan Tavares poderia ocupar a presidência da CBFS até o fim de 2017, quando se encerraria o mandato de Aécio de Borba Vasconcelos. Por conta das dificuldades encontradas no mandato, ele decidiu antecipar as eleições a fim de tentar melhorar o quadro. Participam da eleição desta terça-feira, na sede da CBFS, em Fortaleza, os presidentes das 27 federações estaduais filiadas. Com apoio quase total à sua candidatura, Madeira deve ser eleito por aclamação.
FUTEBOL DE AREIA VIVEU SITUAÇÃO SEMELHANTE EM 2013
Em 2013, o futebol de areia viveu situação semelhante ao que está prestes a acontecer com o futsal. Baseada em uma resolução da sua presidência, a CBF passou a assumir a seleção brasileira nas competições oficiais e internacionais promovidas pela Fifa ou pela Beach Soccer World Wide (BSWW).
Por determinação da entidade máxima do futebol, o treinador passou a ser o ex-jogador Júnior Negão, demitido pela Confederação Brasileira de Beach Soccer (CBBS) naquele ano. Contratado por esta última para o lugar de Negão, Andrey Valério chegou a fazer uma convocação na mesma época, e o caso foi parar na Justiça, com ganho de causa para a CBF, que passou a gerir a seleção de futebol de areia deste então.
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