Alma, raça e paixão: o top 5 de Sandro, xerife com "espírito de Libertadores"

Ídolo, que nunca disputou a competição continetal, lista jogos mais importantes pelo Botafogo e revela saudades de jogar: “Vontade de dar carrinho nestes argentinos”

"Espírito de Libertadores". A expressão se tornou um dos maiores clichês quando se discute a maneira como se joga a competição sul-americana. Se alguns se garantem só na técnica, outros se apegam à tática, à garra e à vontade de vencer para superar os adversários no torneio mais importante do continente. No coração e sob a batuta do técnico Jair Ventura, o Botafogo versão 2017 caminha e dá esperanças ao seu torcedor de que pode ir longe no campeonato, do seu jeito, com alma vencedora. A mesma alma de um ídolo que, apesar de nunca ter jogado uma Libertadores em sua carreira, representava em campo o que os botafoguenses querem ver nesta temporada. 
Sandro Botafogo (Foto: Agência O Globo)Sandro com os jovens torcedores do Botafogo: zagueiro nunca disputou uma Libertadores (Foto: Agência O Globo)


Com a camisa 3 às costas, uma bomba do pé direito e a vontade de vencer na sola da chuteira, Sandro não precisou levantar troféus para conquistar o coração dos alvinegros. Por isso, o xerife, que ajudou a reerguer o Glorioso em um dos momentos mais complicados de sua história, conversou com o GloboEsporte.com e listou as cinco partidas com mais cara de Libertadores em sua passagem pelo clube, entre 1999 e 2004. Entre vitórias e derrotas, algumas coincidências e lições que podem ser úteis ao Bota pela América do Sul. 
Sandro Botafogo zagueiro Mick Jagger Botafogo x Estudiantes Libertadores  (Foto: Gilberto Mateus/ Arquivo pessoal )Sandro assistiu à Botafogo x Estudiantes, na estreia do Glorioso na Libertadores (Foto: Gilberto Mateus/ Arquivo pessoal )
Sandro foi vice-campeão da Copa do Brasil, em 99, esteve presente em campanhas ruins no Estadual e no Brasileiro, na queda para a Série B, em 2002, e no retorno à elite do futebol nacional em 2003. Nem de longe, o ex-zagueiro viveu um momento esportivo parecido com o que o clube atravessa atualmente. Reverenciado pelos botafoguenses pela entrega em campo e por ter sido o símbolo em momentos difíceis, Sandro agora fica da arquibancada, torcendo. Identificado com a forma de jogar do time e com a dedicação de jogadores, como o zagueiro Carli e os volantes Airton e Bruno Silva, o "xerife" assiste às partidas da Libertadores e ainda se vê dentro de campo, com a camisa alvinegra.
- Eu me vigio quanto a isso, se não, fico maluco. Mas que dá vontade de dar uns carrinhos nestes argentinos, dá. Fui ver o jogo contra o Estudiantes. Deu vontade de entrar em campo e dar umas voadoras boas ali, uns carrinhos legais (risos). Mas a minha época passou, o futebol me proporcionou uma boa vida e não posso lamentar. Hoje o time tem a minha cara. Os caras correm o tempo todo, são aguerridos, dão carrinho quando tem que dar. Você vê o Camilo correndo para um lado, o Pimpão para o outro, os dois volantes marcando para tudo quanto é lado, o Carli jogando firme... Vejo o Botafogo com muita pegada, com muita vontade de vencer, coisa que sempre tive – disse.
TOP 5: "ESPÍRITO DE LIBERTADORES"
Atlético-PR 2 (1) x (4) 1 Botafogo - Copa do Brasil 1999 - Quartas de final (volta) 
Camilo, Pimpão, Roger, Sassá... o “bicicletário” do Botafogo está movimentado nos últimos meses. E não é que Sandro também deixou sua marca no mesmo estilo? Após vencer o primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil de 99 por 2 a 1, no Maracanã, o Botafogo enfrentou o Furacão no Pinheirão e saiu perdendo por 2 a 0. Aí, o zagueirão, que havia chegado há pouco tempo em General Severiano, inventou uma puxeta, diminuiu para o Bota e levou a decisão para os pênaltis, em que o Botafogo se deu melhor.      

- O mata-mata sempre é um jogo estilo Libertadores. E ainda tem esta questão das bicicletas do Camilo, Pimpão, Roger, Sassá e da minha puxeta, né? É engraçado! E foi uma partida muito pegada, saímos perdendo por 2 a 0, consegui fazer o gol e fomos vencer nos pênaltis. Antes do jogo e no decorrer da partida lá no Pinheirão houve muita tensão, tumulto. Lá, foi tipo Libertadores: pau comendo e, como dizemos na pelada lá no Recife, foi “pé no bucho e mão na cara”.
Palmeiras 1 x 1 Botafogo - Copa do Brasil 1999 - Semifinal (ida)
Marcos, Arce, Zinho, Alex, Paulo Nunes, Oséas, Evair.... O time do Palmeiras em 1999 era uma das equipes mais fortes tecnicamente no futebol brasileiro. Mesmo assim, o Botafogo conseguiu eliminar o time paulista nas semifinais da Copa do Brasil. Na base da garra e da obediência tática, o time comandado por Gilson Nunes conseguiu segurar o empate em 1 a 1, em pleno Palestra Itália. De acordo com Sandro, o time de Jair Ventura vai encontrar adversários mais poderosos mas, nem por isso, deve se intimidar.   
- O Palmeiras era uma equipe fortíssima, atual campeã da Copa do Brasil e que ganhou a Libertadores em 99, contra um time, que não foi para as finais do Campeonato Carioca e lutou até a última rodada do Brasileiro para não cair. O Palmeiras era um time muito superior ao nosso, algo que o Botafogo vai enfrentar ainda nesta Libertadores pela frente. Mas conseguimos superar o time deles na força de vontade e na obediência tática. 
Juventude 2 x 1 Botafogo - Copa do Brasil 1999 - Final (ida)

“Cabeça fria”. Este é o conselho de Sandro para o Botafogo na Libertadores. Coisa que ele mesmo admite que não conseguiu ter no primeiro jogo da final contra o Juventude, em Caxias do Sul. Quando o Botafogo já perdia por 2 a 0 no Alfredo Jaconi, Sandro se desentendeu com um atleta do time gaúcho, foi expulso e ficou fora da decisão no Maracanã, que sagrou o Ju como campeão.
- A gente já estava perdendo o jogo e eu já estava de cabeça quente. O Wallace ficou na frente da bola e eu empurrei ele. Aí, o Márcio Rezende de Freitas, que foi o “artista” daquele jogo, expulsou nós dois. O árbitro poderia dar um amarelo ou então deixar a partida seguir. Mas ele preferiu me expulsar, me tirar do jogo. E ainda teve dois gols legítimos que ele anulou da gente, né!? (O Botafogo) Tem que ter cuidado, para não se perder nisso. É preciso ter cabeça fria sempre. Mas às vezes não dá... o cabeção esquenta         
Náutico 2 x 4 Botafogo - Campeonato Brasileiro Série B 2003 - 2ª Fase


Quando pegou três pênaltis e classificou o Botafogo para a fase de grupos da Libertadores Gatito Fernández teve motivos de sobra para comemorar. Torcedor do Cerro Porteño e revelado pelo clube paraguaio, o goleiro calou o Defensores del Chaco e a galera do Olímpia, maior rival do Cerro. Em 2003, Sandro fez algo parecido, nos Aflitos. Torcedor do Santa Cruz e revelado no Sport, o zagueiro enfrentou o Náutico, na estreia da segunda fase da Série B. Com dois gols, ele ajudou o Bota a vencer. De quebra, ainda fez o irmão perder dinheiro.    

- Gosto especial. A minha família estava todinha lá. Meu irmão, Bira, torce pelo Náutico e apostou dinheiro contra o Botafogo. Fiz dois gols no Náutico e, depois da partida, meu irmão veio me xingar, por ter perdido dinheiro. Quase matei ele quando soube que apostou no Náutico. Mas foi bem feito, bem que eu gostei dele ter se ferrado (risos). O Náutico era um grande rival do Sport, clube onde eu apareci. A torcida próxima, gramado ruim. E a Série B não era fácil, não era pontos corridos igual hoje. Existia estes quadrangulares cabulosos aí. Mas conseguimos vencer.
Botafogo 3 x 1 Marília - Campeonato Brasileiro Série B - 3ª Fase

Sandro viveu um processo doloroso para se tornar ídolo do Botafogo. No entanto, a partida mais simbólica e que ele considera o jogo mais importante de sua carreira aconteceu no dia 22 de novembro de 2003. O Botafogo precisava bater o Marília, em Niterói, e torcer para que o Palmeiras vencesse o Sport em Garanhuns, para subir de forma antecipada. Sandro abriu o caminho para o triunfo alvinegro e se recorda do “caldeirão” no Caio Martins, da tensão nas arquibancadas e do quão representativo foi o acesso à primeira divisão. 
- Me lembro da torcida angustiada pelo acesso e explodindo de felicidade com a volta para a Série A. Aquilo ali era uma questão de honra. Eu tinha na minha cabeça que eu tinha deixado o Botafogo cair em 2002 e precisava subir com o time. Lembro que eu cheguei no Bebeto de Freitas (presidente à época) e, mesmo com propostas para sair, eu pedi uma oportunidade para continuar e ajudar a recolocar o time na Série A. Ele cortou meu salário pela metade, e isso não importava para mim. Prometi que não ia me machucar, que não seria expulso e que iria fazer dez gols na Série B, subindo o time. Cumpri tudo e consegui fazer oito gols. Fui para aquele jogo no limite. Foi o jogo da minha vida, o gol mais importante como profissional, um dos mais bonitos também. Passou pela minha cabeça quebrar a porta do vestiário de novo, igual fiz contra o São Paulo, no rebaixamento. Só que, desta vez, de alegria.  

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