“Rei do Acesso” exalta filosofia de trabalho em missão de resgatar Azulão

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Luis Carlos Martins comanda grande campanha do São Caetano na Série D (Foto: Divulgação/AD São Caetano)
Antes de iniciar a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro, o São Caetano sabia que, para continuar vivo no cenário nacional, precisaria de um acesso à Série C. Afinal, o Azulão não poderia voltar a jogar a quarta divisão no próximo ano por meio do Campeonato Paulista, já que está na Série A2 estadual. Para a missão de superar 40 outros clubes sedentos por um acesso à Terceirona, o clube do ABC paulista não poderia ter escolhido outro comandante senão Luis Carlos Martins.
Conhecido como o “Rei do Acesso”, o treinador de 60 anos de idade assumiu, a partir de setembro de 2014, um dos grandes desafios da vitoriosa carreira pelo interior do Brasil: fazer o pequeno gigante Azulão, sensação do futebol canarinho no início dos anos 2000, voltar a ter destaque na elite.
Até aqui, o trabalho do comandante vem dando resultado: o time por muito pouco não conquistou o acesso à elite do Paulistão no início do ano, ficando de fora devido a critérios de desempate, e, na Série D, fez uma campanha avassaladora na primeira fase, com seis vitórias, um empate e uma derrota, melhor desempenho entre todas as equipes do torneio.
Trajetória do “Rei do Acesso”
Nascido na pequena Cafelândia, no oeste de São Paulo, Luis Carlos adquiriu o apelido devido às inúmeras façanhas que conquistou durante a carreira, como o acesso com o Oeste para a Série B do Brasileiro, em 2012, com o Mirassol para a Série A-1 do Paulista, em 2007, e com o modesto Guaçuano, em 1992, da A-3 para a A-2 do Paulista. “Ao todo, tenho cerca de 16 acessos durante toda minha carreira”, contou Luis Carlos à reportagem da Gazeta Esportiva.
gfgssTreinador foi o técnico do Oeste no histórico título da Série C em 2012 (Foto: Divulgação)
Treinador foi o técnico do Oeste no histórico título da Série C em 2012 (Foto: Divulgação)
O técnico teve uma passagem pelo Azulão em 1999, onde não conseguiu nenhum acesso, mas ajudou na montagem do time que, nos anos seguintes, se tornaria um fenômeno de proporções continentais sob a tutela de Jair Picerni. Agora contratado para tirar o time da última divisão nacional, Luis Carlos sabe de sua responsabilidade.
“Responsabilidade nós treinadores temos em todos os momentos, em qualquer time que a gente assume. O São Caetano é um time de historia. Peguei a equipe num momento muito ruim psicologicamente. E a partir de dezembro fizemos uma reformulação. Quando você pega um time que vem de rebaixamentos e más campanhas, a pressão aumenta. Porém, desde que cheguei aqui, as coisas têm acontecido bem”, disse.
Segredo?
O técnico é reticente ao falar das próprias qualidades. Prezando pela humildade e pés no chão, Luis Carlos Martins prefere não ressaltar nenhum segredo ou qualidade própria que o faça ser tão competente no quesito acesso de divisão, mas reconhece e agradece pela boa fama.
“É um rotulo merecedor pelo que fiz, ao mesmo tempo é uma responsabilidade muito grande. Se você não for campeão, tem que chegar entre os quatro primeiros. As coisas têm acontecido positivamente. Meus acessos têm ajuda sempre da comissão que eu trabalho, o roupeiro, o pessoal do campo… Todos imbuídos de boa vontade e pensamento positivo”, destacou o técnico.
Esperança em dias melhores no Azulão
Após a queda da Série C para a D no ano passado, o São Caetano chegou muito perto de conseguir voltar à primeira divisão estadual na A2, no início do ano. O time ficou de fora pelos critérios de desempate, com a melhor defesa da competição e, acima de tudo, com a confiança em dias melhores readquirida.
“Disputamos a Série A2 numa remontagem do time, alguns saindo, outros chegando, e fizemos um bom campeonato. Mantivemos 70% da base para a Série D, um campeonato complicado, com várias equipes que disputam a primeira divisão do seu estado. Com determinação e pés no chão, sabemos da nossa capacidade” avaliou Luis Carlos.
FUTEBOL - HISTÓRIA DO SÃO CAETANO - ESPORTES - ACERVO -  Os jogadores do São caetano em pé(da esquerda para a direita): o goleiro Sívio Luiz, Dininho, SerginhoO o sexto da esquerda para a direita) - Agachados: Russo, Adãozinho, Anaílson, Robert, Rubens Cardoso, Marcos Senna, Aílton, Marlon, Wágner(D) e seus companheiros de equipe, antes da partida contra o Olímpia, válida pela final da Taça Libertadores da América de 2002 - Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu) - São Paulo - SP - Brasil - 31/07/2002 - Foto: Acervo/Gazeta Press
Azulão alcançou a final da Libertadores da América em 2002, com base montada por Luis Carlos Martins anos antes (Foto: Acervo/Gazeta Press)
O treinador, que adota um estilo de união entre os atletas e disciplina fora dos campos, destacou a qualidade do grupo que tem em mãos, sem grandes estrelas, mas com muito entrosamento e vontade de vencer. “Nessa primeira fase o time foi determinado, o grupo é bom, não dá problema fora de campo. Não temos grandes medalhões. São jogadores simples, mas que se encaixaram bem nessa filosofia de determinação em busca das vitórias”, disse.
“Eles têm entendido que o time é uma família, que se você não estiver unido e em grupo, quando os obstáculos chegarem, você não vai superá-los. O segredo desse grupo é a fortaleza, os pés no chão, a humildade. Todos se cuidando fora de campo, determinados taticamente dentro de campo, na hora do jogo, sem vergonha de marcar forte e sem medo de jogar”, completou.
Jô: de “gordinho” e quase aposentado a artilheiro isolado do campeonato
O maior destaque do São Caetano nesta primeira fase da Série D foi o atacante Jô. Autor de 11 gols no torneio (metade dos tentos do Azulão), o jogador foi formado nas categorias de base do Corinthians, de onde “sumiu” em 2011 após um desentendimento com o médico alvinegro. Dr. Joaquim Grava. Jô ficou afastado dos campos por três anos, e o excesso de peso era nítido em janeiro. No entanto, segundo Luis Carlos, tudo se mudou após uma conversa entre os dois.
“Quando cheguei aqui, o Jô estava afastado. Depois de dois meses, ele apareceu no clube. Conversei com ele e coloquei meu ponto de vista a respeito do grupo, se ele queria pegar firme. Ele entendeu a nossa filosofia. A partir do momento que ele começou a trabalhar comigo, não deu nenhum problema. É um menino nota 10, disciplinado. Coloquei ele no time mesmo estando há três anos sem jogar”, lembrou o técnico.
Jô
Atacante Jô (esq.) fez 11 dos 22 gols marcados pelo Azulão na primeira fase da Série D (Foto: Divulgação/AD São Caetano)
A Série D e os clubes pequenos
Acostumado a treinar equipes de menor porte do interior, Luis Carlos Martins também falou sobre a Série D do Campeonato Brasileiro, iniciada a partir de 2009 pela CBF. Para ele, a ativação do novo torneio reacendeu a competitividade nos times pequenos.
“A Série D é importante para todos, tanto para a CBF quanto para os clubes. Para você chegar à Série A, tem que passar por ela. Há mais disciplina, mais profissionalismo, e como é uma competição comandada pela CBF e de alto nível, você tem que disputar com pés no chão, sabedoria e inteligência”, afirmou.
O treinador teceu elogios à entidade máxima do futebol pela organização do torneio e pelo apoio aos clubes. “A CBF dá uma condição boa, tem ajudado os clubes pequenos com passagens de avião, hotéis… ela tem colaborado. É uma divisão mais deficitada em torcida e em público. A TV não passa, e a gente tem que fazer mais sacrifício para subir”.
Para ele, a divisão é um grande campo para revelação de novos talentos. “A Série D pode revelar atletas, dirigentes, treinadores, árbitros, bandeiras… Tudo é aprendizagem. Vai da inteligência de cada um, de saber que se você está na quarta divisão, tem que lutar para ter seu espaço e alcançar sucesso”, finalizou.
* Especial para a Gazeta Esportiva

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