Médico critica jogo às 15h no Brasileiro feminino: "Humanamente impossível"
Segundo profissional, sensação térmica chegou aos 45º C no duelo entre Tigre e Viana, encerrado antes dos 45. Alimentação errada também influenciou, diz técnico
Não é qualquer pessoa que consegue encarar o sol de Teresina, no Piauí, e sair ileso. Principalmente nesta época, conhecida popularmente como B-R-O Bró, período onde são registradas as maiores temperaturas do ano no estado. E as atletas do Viana-MA sentiram isso e passaram por uma experiência nada agradável. Durante a vitória do Tiradentes-PI por 10 a 0, pela quinta e última rodada da primeira fase do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, cinco atletas foram conduzidas ao hospital (veja no vídeo acima) por conta de uma forte desidratação. Oito jogadoras, além de uma dirigente do clube, também passaram mal. Além do calor – que chegou a 39º durante o jogo – outro fator foi elencado como a causa do problema: alimentação errada e a viagem até Teresina.
Goleira passa mal em campo (Foto: André Leal)
O técnico do Viana-MA, Marcos André, afirmou que o horário da alimentação não foi adequado, tampouco, o começo da partida – iniciada às 15h. Após uma viagem de oito horas, de São Luís até Teresina, as atletas enfrentaram uma temperatura de 39°. As desvantagens climáticas não pararam por aí. Com a umidade muito baixa (20%), a alimentação das atletas aconteceu próximo ao horário do jogo. Combinação que, segundo o treinador, resultou na ida de parte do elenco ao hospital.
- Chegamos praticamente no horário do jogo. Nossas atletas passaram mal, a pressão da nossa goleira chegou a 18 e muitas desfalecendo dentro de campo por não conseguir respirar. Almoçamos praticamente às 13h40, no horário que chegamos. Tivemos praticamente 20 minutos para elas se equiparem e vir para campo – afirmou o técnico Marcos André.
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Jogadoras reclama de horário de partida (Foto: André Leal)
Reclamando da diferença no tratamento com relação ao futebol masculino, a jogadora Stefany Cavalcante, resumiu como “desumana” a escolha da Confederação Brasileira de Futebol para o horário do jogo.
- Foi crítico pelo fato de iniciarmos o jogo às 15h, enfrentar estrada de oito horas, lamentavelmente. Isso é crítico demais. A falta de respeito é desumana com o futebol feminino. No masculino, nunca vimos uma partida começar em plenas 15h em nenhum lugar no Brasil, pelo menos eu nunca vi – comentou Stefany Cavalcante.
Atletas saíram do estádio e foram para o hospital (Foto: André Leal)
Presente no estádio Albertão, o médico Jesus Bringel foi o responsável por fazer parte dos atendimentos durante o segundo tempo. Dando o seu parecer, apesar de relatar que não sabe a rotina das atletas, Jesus Bringel afirmou que as condições climáticas tornou inviável a prática de qualquer atividade física.
- Uma partida nesse horário não é nada adequada. Tínhamos uma sensação térmica superior a 45°, umidade baixíssima, sol muito quente. É humanamente impossível praticar qualquer atividade física nesse horário, especialmente futebol. Já era de se esperar que fosse acontecer. Se elas almoçaram muito tarde, não tiveram tempo de fazer digestão. No mínimo duas horas antes de fazer a atividade – afirmou o médico Jesus Bringel.
O horário da partida foi definido pela CBF, organizadora da competição. As federações de futebol do Piauí e do Maranhão solicitaram a mudança das 15h para outro horário, contudo negado pela entidade. Em nota, a Confederação Brasileira explicou que por ser a última rodada os jogos deveriam acontecer juntos. Depois do episódio em Teresina, a CBF informou “que vai rever a questão dos horários das partidas, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste”.
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