Inspirado no "Rei de Copas", Del Valle pode ter Libertadores como 1º troféu
Criado como uma homenagem ao Independiente argentino, time equatoriano pode ser o primeiro a levar título sul-americano sem jamais ter sido campeão nacional
A Taça Libertadores já viu equipes pouco badaladas chegarem à final e até vencerem o torneio, como ocorreu com o Once Caldas, em 2004, e a LDU, em 2008. Mas o Independiente del Valle, grande surpresa da atual edição, pode fazer aquilo que nenhuma equipe fez na história do torneio, criado há 56 anos: ser campeão continental sem jamais ter conquistado um título nacional e ainda ter a chance de ir ao Mundial de Clubes, no Japão - seria o primeiro troféu importante para sua galeria (que conta apenas com a segunda divisão). Para isso, basta aos equatorianos vencerem o Atlético Nacional na decisão desta quarta-feira, às 21h45 (de Brasília), em Medellín. O SporTV transmite ao vivo, e o GloboEsporte.com acompanha em Tempo Real.
Torcida do Del Valle sonha com seu primeiro título da história e vaga no Mundial de Clubes (Foto: Reuters)
Ao chegar à final da Taça Libertadores apenas em sua terceira participação no torneio, o Independiente del Valle surpreendeu muita gente na América do Sul, mas certamente deixou muito orgulhoso, em algum lugar, um simples sapateiro que o criou. José Terán queria que existisse uma equipe para representar a cidade de Sangolquí, no norte do país. Ao lado de colegas de trabalho, colocou o plano para frente e, para batizar o mais novo clube, inspirou-se no Independiente da argentina. Em 1958, antes mesmo da Taça Libertadores existir, era criado o Club Social y Deportivo Independiente - com o mesmo branco e vermelho do time hermano.
A história que é contada por familiares de Terán é que o sapateiro recebia regularmente a revista argentina "El Gráfico" em sua loja - e teria ficado apaixonado por aquela equipe que já havia sido pentacampeã nacional até aquele ano (naquele momento, a Taça Libertadores ainda nem existia). Enquanto o clube que criou disputava ligas regionais, José Terán acompanhava de longe a equipe da qual era fã se tornar o Rei de Copas na América do Sul. Morto em 1975, ele viu o Independiente ganhar seis dos seus sete títulos de Libertadores - o que rende ao time argentino, até hoje, o posto de maior campeão da história.
A história que é contada por familiares de Terán é que o sapateiro recebia regularmente a revista argentina "El Gráfico" em sua loja - e teria ficado apaixonado por aquela equipe que já havia sido pentacampeã nacional até aquele ano (naquele momento, a Taça Libertadores ainda nem existia). Enquanto o clube que criou disputava ligas regionais, José Terán acompanhava de longe a equipe da qual era fã se tornar o Rei de Copas na América do Sul. Morto em 1975, ele viu o Independiente ganhar seis dos seus sete títulos de Libertadores - o que rende ao time argentino, até hoje, o posto de maior campeão da história.
Depois de sua morte, o sapateiro entraria para o nome do clube que fundou, que passou a chamar-se Independiente José Terán em 1977, mantido por amigos do criador. E a sina daquela modesta equipe de uma cidade no Vale seria disputar por décadas a Segunda Categoría (equivalente à terceira divisão do Euqador) - até surgir em seu caminho outro empreendedor, que iniciaria a trajetória que levaria o Independiente equatoriano ao lugar onde seu clube inspirador já estava acostumado a chegar.
A NOVA ERA: CLUBE-EMPRESA
Em 2006, o empresário equatoriano com ascedência alemã Michel Deller decidiu expandir seus negócios para o futebol. Identificou no pequeno clube daquela cidade um potencial para investir e comprou a equipe. O vermelho e branco pensados por José Terán originalmente foram trocados pelo preto e azul, para dar uma identidade própria ao clube - que já não teria mais o nome de José Terán, mas permaneceria como Independiente, agora Del Valle.
No primeiro ano de sua nova era, em 2007, o Del Valle enfim venceu a Segunda Categoría e subiu para a segunda divisão equatoriana. Depois de juntar-se com outros empresários, incluindo o prefeito de Sangolquí, Héctor Jácome, Michel Deller transformou o clube em uma empresa - algo raro no futebol sul-americano -, com capital inicial de apenas US$ 400.
Jefferson Montero foi um dos primeiros bons negócios feitos pelo clube (Foto: Getty Images)
Com um foco comercial, o clube passou a dedicar a maioria de seu investimento na formação de jogadores, e logo tornou-se referência dentro do Equador na exportação de jovens. Ainda quando jogava a segunda divisão nacional e era um desconhecido para a América do Sul, já conseguiu romper a barreira do mercado europeu, vendendo Jefferson Montero (hoje no Swansea) ao Villarreal, da Espanha, por US$ 700 mil, e cedendo Fernando Guerrero ao Burnley, da Inglaterra. Estes dois, naturalmente, não haviam sido formados na base do Del Valle: o clube apenas os comprou como um investimento e os negociou.
- Temos bem claro até onde vamos, com um grupo muito comprometido de dirigentes e comissão técnica. Uma pequena, mas muito estruturada organização de formação que trabalha com conceitos europeus - resumiu o empresário Michel Deller à "ESPN".
Esta prática empresarial foi permitida, inicialmente, por bons olheiros e boa relação com escolinhas de futebol e empresários. Mas o mesmo sistema que permitiu ao clube conseguir bons negócios, gerou um time jovem e promissor que colheu sucessos dentro de campo. Em 2010, chegou à primeira divisão, onde começou a ganhar espaço e, apesar de ainda não ter conquistado um título, passou a estar sempre nas primeiras colocações. Não é a toa que esta é a terceira participação seguida do clube na Taça Libertadores - e com uma campanha tão impressionante, deixando para trás River Plate e Boca Juniors.
Esta prática empresarial foi permitida, inicialmente, por bons olheiros e boa relação com escolinhas de futebol e empresários. Mas o mesmo sistema que permitiu ao clube conseguir bons negócios, gerou um time jovem e promissor que colheu sucessos dentro de campo. Em 2010, chegou à primeira divisão, onde começou a ganhar espaço e, apesar de ainda não ter conquistado um título, passou a estar sempre nas primeiras colocações. Não é a toa que esta é a terceira participação seguida do clube na Taça Libertadores - e com uma campanha tão impressionante, deixando para trás River Plate e Boca Juniors.
- Não sei dizer se foi uma surpresa, pelo trabalho que a diretoria tem feito, mas na parte futebolística não tenho a menor dúvida que sim. Deixou para trás times importantes da América do Sul e é jovem nesse tipo de torneio. Por isso, não deixa de surpreender que esteja lutando por uma final de Libertadores. Creio que 60% seja por conta do trabalho sério do presidente Michel Deller, e 40% tenho que dizer que é sorte. Me recordo claramente o jogo contra o River Plate no Monumental, em que a trave os salvou em várias ocasiões - avalia Andres Morales, jornalista da Radio Caravana, do Equador.
CENTRO DE TREINAMENTO É TRUNFO PARA O FUTURO
Depois do fim da construção de seu Centro de Treinamento, em 2014, foi rebatizado para Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente del Valle. O CT é um dos mais modernos do Equador, de acordo com a imprensa local, contando com sete campos de futebol, ginásio, piscina coberta e alojamento para os atletas. Lá, os jovens entre 18 e 20 anos também recebem a oportunidade de estudar, saindo como bacharéis-técnicos em esportes.
Clube tem CT de alto rendimento para time principal e categorias de base (Foto: Reuters)
- As instalações do clube são de primeiro nível. Me atrevo a dizer que é um dos melhores prédios da América. Os jogadores das divisões inferiores têm moradia, alimentação e educação. Sem dúvida, tem diferenças para os outros complexos do país. Para mim, é o mais completo - afirma Andres Morales.
Formatura de alguns jogadores do clube nesta semana (Foto: Reprodução/Twitter)
O clube orgulha-se de não acumular dívidas, diferente de muitos de seus adversários, e destina 60% de sua receita para investimento nas categorias de base - apenas 3% para a contratação de novos jogadores. Esta valorização dos jovens foi o que levou o técnico Pablo Repetto, ex-comandante de Cerro Porteño e Defensor Sporting, a treinar o clube desconhecido.
Com média de idade de 23 anos, o elenco atual deve trazer boas cifras para o clube mais uma vez. O zagueiro Arturo Mina, que chegou a ser cotado pelo Atlético-MG, jogará no River Plate; o atacante Sornoza está perto de assinar um pré-contrato com o Fluminense para o próximo ano; o meia Bryan Cabezas seria alvo do Grêmio; o goleiro Azcona estaria na mira do Racing, da Argentina; o atacante José Angulo teria clubes interessados na Europa e no México.
Com média de idade de 23 anos, o elenco atual deve trazer boas cifras para o clube mais uma vez. O zagueiro Arturo Mina, que chegou a ser cotado pelo Atlético-MG, jogará no River Plate; o atacante Sornoza está perto de assinar um pré-contrato com o Fluminense para o próximo ano; o meia Bryan Cabezas seria alvo do Grêmio; o goleiro Azcona estaria na mira do Racing, da Argentina; o atacante José Angulo teria clubes interessados na Europa e no México.
Para deixar claro sua vocação para formar jogadores, o clube se autodenomina "o futuro campeão do futebol equatoriano". Mas pode pular etapas e, antes mesmo da glória dentro do seu país, conquistar a América como bem fazia o Independiente que fez José Terán se inspirar há 58 anos. Para isso, basta uma vitória simples no estádio Atanasio Girardot nesta quarta-feira, diante do Atlético Nacional. Um empate leva a decisão para os pênaltis, uma vez que os dois times ficaram no 1 a 1 no jogo de ida, e não há peso maior para os gols fora de casa na final.
Centro de treinamento do Independiente del Valle é muito elogiado (Foto: Divulgação/Site oficial do Del Valle)
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