Rio de Janeiro atropela o Cruzeiro e conquista Superliga pela primeira vez


Cariocas reagem após perder o primeiro set e quebram escrita de 32 anos

Por Danielle RochaRio de Janeiro
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Do outro lado da rede estava um gigante. Daqueles difíceis de serem derrubados. Forte, cheio de armas, doido para manter a sua coroa e dando sinais claros disso. O Cruzeiro venceu o primeiro set com tranquilidade. Tinha pressa e tratou de deixar de lado a tática do bom mineiro. Mas neste domingo, no Maracanãzinho, quem acabou comendo pelas beiradas foi o Rio de Janeiro. De mansinho, como quem não quer nada, se recuperou, tomou conta da partida e conquistou o primeiro título da Superliga em apenas dois anos de história: 3 sets a 1, parciais de 15/25; 25/18; 25/18 e 25/14.  
Fez mais do que isso. Pôs fim a um jejum que durava 32 anos. Foi em 1981, no mesmo palco, que o time do Atlântica Boavista ergueu o caneco pela última vez em um campeonato nacional para o estado. O feito também faz a cidade ter pela primeira vez duas equipes campeãs da Superliga masculina e feminina. Transforma ainda o levantador Bruninho no maior vencedor de todos os tempos do torneio, com seis títulos no currículo (um pela Unisul, quatro pelo Florianópolis e um com o Rio de Janeiro).
- Estou muito feliz. Sou carioca, poder trazer essa alegria nesse projeto é fantástico. Estou muito feliz, é indescritível o que estou passando agora. Poucas pessoas ainda duvidam do meu talento e do meu trabalho, acham que eu só estou na seleção porque sou filho do Bernardinho, mas eu provo a cada dia que não é nada disso. Sou hexacampeão - desabafou o levantador.
Do lado mineiro, Wallace admitiu que o time parou em quadra a partir do segundo set.
- Nada deu certo para a gente. Nossa principal arma, que é o ataque, não funcionou. Aí fica complicado depender somente dos outros fundamentos. Acho que a partir do segundo set não mostramos a que viemos. Mas isso vai nos fazer crescer. Parabéns ao Rio - disse o oposto.
mosaico volei rio de janeiro x cruzeiro maracanazinho (Foto: André Durão)(Fotos: André Durão)
O jogo
Atento a Wallace, o Rio de Janeiro fechou a porta para o oposto. Nos dois primeiros pontos da decisão, o bloqueio duplo bem montado conseguiu conter o ímpeto da jovem arma do Cruzeiro. Se Wallace estava bem marcado, William Arjona fazia uma nova aposta. Acionava Douglas Cordeiro pelo meio. Bola no chão. Filipe também dava sua cota de contribuição e fazia os companheiros vibrarem. Os anfitriões forçavam o saque para tentar tirar a bola das mãos de William. Mas eles passavam da linha da quadra e davam chances para que a equipe mineira construísse uma vantagem confortável (16/9). O técnico Marcelo Fronckowiak tentava colocar ordem na casa, mas pouco adiantava. O Rio de Janeiro seguia falhando, nos saques e na recepção, e já não tinha o mesmo brilho no olhar. Os rostos estavam preocupados. Bruninho e Théo foram para o banco. Guilherme e Da Silva, para o jogo. Pouco mudou. Os atuais campeões tinham dez pontos de frente (22/12) e defendiam bem. Na arquibancada, a torcida visitante já cantava vitória, aos gritos de "bicampeão".  De volta à quadra, e já com o set comprometido, Bruninho tentava motivar o time, visando uma reação na parcial seguinte. A primeira já tinha dono: 25/16, com Leal explorando o bloqueio.
volei rio de janeiro x cruzeiro maracanazinho (Foto: André Durão)Riad encara Filipe e Rogério na rede
(Foto: André Durão)
A atuação abaixo do esperado incomodou. O Rio de Janeiro precisava reagir, e foi Lucão quem deu um passo à frente para tentar mudar aquele quadro. Subiu alto no bloqueio, sacou bem e manteve a equipe no comando do placar (5/1).  O Cruzeiro  já falhava mais do que antes e ia para a primeira parada técnica com quatro pontos atrás. No intervalo, Acácio, que via tudo do fundo da quadra, dava dicas a Filipe. William pedia calma. E na equipe quem é sinônimo disso é Douglas. Ataque pelo meio, ponto do central. Mas Bruninho & Cia estavam em melhor momento. Os torcedores sentiam o mesmo e faziam a sua parte (11/6). Marcelo Mendez viu que era hora de tentar frear a reação. O cubano Leal fez o mesmo. E comemorou com um soco na proteção da rede o bloqueio que fez sobre Théo. Thiago Alves respondia e regia a arquibancada. Repetiu o gesto mais uma vez. Riad e Bruninho formaram um paredão (15/10). Aos pouquinhos, o Cruzeiro se aproximava. Apesar dos dois pontos consecutivos do adversário, o Rio de Janeiro tinha as rédeas do jogo. Bruninho vibrava. O pai, Bernardinho, também, ao lado da filha Júlia. Perdendo por 22/16, Marcelo Mendez pediu desafio, reclamando invasão por baixo de Dante. Não houve. O técnico do Cruzeiro colocou Daniel, irmão de Mari Paraíba, em quadra. Mas quem levou a melhor foi o time de Riad, namorado da jogadora. Com um saque de Thiago Alves, os anfitriões deixaram tudo igual: 25/18.
Rio deslancha e não dá chances ao Cruzeiro
Tinha jogo. E dos bons. O terceiro set começou equilibrado. Com 3 a 1 para o Rio no placar, Bruninho pediu desafio alegando invasão de Wallace. Nada feito. Melhor para o oposto do time mineiro, que empatou o jogo com uma pancada no saque (3/3). Seu time lutava, mas não conseguia passar à frente (9/6). Lucão também soltava o braço e crescia na rede. Encontrava o lugar certo para conseguir mais um pontinho de saque. O técnico do Cruzeiro pedia que seus comandados não encarassem o bloqueio. O problema é que mesmo tentando sair dele, a bola não caía do lado da quadra do Rio de Janeiro (16/10). Rogério se esfoçava, mas a situação não mudava. O saque parava na rede, e o placar andava a passos largos a favor da equipe da casa (20/12). O Cruzeiro tentava se reencontrar. Só que nada parecia dar certo. Apático, não criava dificuldades para o adversário, que fazia 2 a 1 com um ataque de Thiago Alves: 25/18 outra vez.
O Rio de Janeiro estava pertinho de colocar o seu primeiro troféu na galeria. Era preciso manter a concentração. E foi o que fez. Rapidinho abriu 13/6. Os jogadores do Cruzeiro balançavam a cabeça. Não acreditavam no que estava acontecendo. O jogo não fluía. Enquanto isso, o conjunto dos anfitriões seguia minando as forças. Na arquibancada, com a mão no queixo, Bernardinho assistia a tudo. Um olho na atuação de Bruninho e outro na festa na arquibancada, que a essa altura já gritava "É campeão!". O Rio de Janeiro parecia alheio ao que ouvia. Mantinha o foco, mesmo com dez pontos de frente. Queria primeiro ganhar a partida. E o fez com maestria, em saque de Théo: 25/14.

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