Fumagalli lamenta o triste fim do Guarani: 'Jogadores não têm dinheiro nem pra gasolina'


Fumagalli Guarani Caxias Série C 28/07/2014
Fumagalli, símbolo dos últimos suspiros do Guarani
Um dos mais tradicionais times de São Paulo, o Guarani está no fundo do poço.

O campeão brasileiro de 1978 chegou a ficar três meses sem pagar salários a jogadores, comissão técnica e funcionários, e o presidente Álvaro Negrão renunciou ao cargo na última quarta-feira, através de uma carta
A situação é desesperadora. A equipe está na antepenúltima colocação de seu grupo na Série C, flertando com a zona do rebaixamento para a última divisão nacional. Além disso, os atletas vêm passando dificuldade com a falta de dinheiro, como conta Fumagalli, maior ídolo recente do clube, em entrevista à Rádio ESPN e ao ESPN.com.br.
"O pessoal comenta todo dia que o aluguel venceu e está sendo cobrado... Tem jogador que não tem dinheiro nem pra colocar gasolina no carro e vir pro treino...", lamentou o atleta, que soma cinco anos de Guarani em duas passagens - também jogou no Santos, Corinthians, Vasco e Sport na carreira.
Uma das últimas resistências do agonizante time campineiro, Fumagalli explica o que levou o ex-clube de Careca, Zenon, Neto, Evair, Djalminha e Amoroso para o buraco.
"O futebol evoluiu, mas o Guarani parou no tempo. As sucessivas administrações ruins criaram uma dívida muito grande, incontrolável, e isso está se refletindo agora. O clube não tem receita, não consegue se manter. Se você não está nas Séries A ou B, não tem direito de televisão, ainda por cima. A CBF também não ajuda em nada", ressaltou.
Na última quinta, a diretoria finalmente pagou o mês de julho, diminuindo a dívida para "apenas" dos meses de salários atrasados, de acordo com Fumagalli. Com isso, os atletas treinaram normalmente e espantaram a possibilidade de fazer greve.
O próximo desafio da equipe comandada por Vágner Benazzi é contra o Guaratinguetá, neste sábado, pela Série C. Em caso de vitória, será reacendida a esperança de ainda conseguir o acesso para a Série B. No caso de derrota, porém, o clube pode voltar à zona do rebaixamento para a Série D, podendo cavar ainda mais no fundo do poço.
Leia a entrevista completa de Fumagalli:
ESPN: O que você sente ao ver o Guarani se esfacelando?
Fumagalli: É difícil... Vivemos um momento muito conturbado. Já joguei Série A de Brasileiro aqui, conheço a história do clube como poucos, então sofro duas vezes: como jogador e como torcedor. O Guarani tem muita tradição, é campeão brasileiro, mas passou por uma série de gestões e administrações ruins, e veio caindo, caindo, e chegou na situação que está hoje, na Série C e quebrado.
ESPN: Como foi que o Guarani chegou ao fundo do poço?
Fumagalli: Acredito que pelas más administrações sucessivas. O futebol evoluiu, mas o Guarani parou no tempo. As administrações ruins criaram uma dívida muito grande, incontrolável, e isso está se refletindo agora. O clube não tem receita, não consegue se manter. Se você não está nas Séries A ou B, não tem direito de televisão, ainda por cima. A CBF também não ajuda em nada. Isso acaba levando clubes como o Guarani para o buraco. Não só o Guarani, como vários outros clubes do Brasil.
ESPN: Tem salvação?
Fumagalli: Tem. Eu acredito muito na força dessa camisa, na torcida apaixonada que o Guarani tem. Não é fácil, mas se você conseguir reestruturar o futebol, a administração e a política, ainda dá pro Guarani, dentro de dois, três anos, voltar à Série A.
ESPN: O ex-presidente renunciou por não conseguir pagar três meses de salários atrasados. É isso mesmo ou mais?
Fumagalli: Realmente chegou a ficar três meses atrasado: junho, julho e agosto. Ele (presidente) acabou renunciado, em função de não conseguir colocar os salários em dia, não só dos jogadores, mas dos funcionários, comissão técnica... A gente viu o esforço que ele fez  pra conseguri pagar, mas infelizmente não deu. Agora, estão chegando pessoas novas para tentar resolver essa situação de imediato. Hoje (quinta-feira), eles pagaram o mês de junho, agora estamos com dois meses atrasados.

ESPN: Existe a possibilidade de greve dos atletas?
Fumagalli: Nós conversamos bastante sobre isso, mas achamos que no momento o ideal é não fazer greve. Vamos tentar resolver de outras maneiras. Na verdade, a gente sabe que o futebol brasileiro como um todo está vivendo um momento muito difícil, com diversos clubes em dificuldade. A gente cobra, é claro, porque é direito nosso receber e dia. Até cogitamos greve, mas como eles pagaram junho, treinamos normalmente.
ESPN: Como está fazendo pra pagar suas contas? Está devendo pra alguém?
Fumagalli: É realmente uma situação difícil... O pessoal é cobrado pela esposa, pelo aluguel, e aí o cara não tem tranquilidade pra desenvolver sue futebol. Isso acaba refletindo no grupo a na qualidade do nosso jogo. Por mais que você foque na partida, e tenha vencer sempre como objetivo, acaba tendo esse desgasta em casa, reclamação da esposa, do filho, de não ter condições de pagar as coisas... Não só o jogador de futebol como todo trabalhador. Se você não receber, sua família vai te cobrar, você vai continuar recebendo contas e elas vão vencer. Isso atrapalha demais, não tem como não admitir. A gente trabalha arduamente, faça chuva ou faça sol, sábado e domingo, e todo mundo quer receber no fim do mês. Quando isso não acontece, atrapalha a todos. A gente espera que as coisas passam se acertar e a nova diretoria consiga colocar os salários em dia pra gente ter tranquilidade pra jogar futebol, que é o que a gente sabe fazer.
ESPN: Os jogadores estão passando por apuros?
Fumagalli: O pessoal comenta todo dia que o aluguel venceu e está sendo cobrado... Tem jogador que não tem dinheiro nem pra colocar gasolina no carro e vir pro treino... Quando acontecem situações como essa, a gente tenta ajudar de alguma forma, mas alguns atletas até já saíram, receberam propostas e pediram pra sair...
ESPN: Há anos se fala que, se o Guarani vender o estádio Brinco de Ouro, vai salvar suas finanças. Essa é mesmo a solução?
Fumagalli: A gente ouve falar bastante nisso. Talvez seja, sim, a solução, pelo menos para a parte financeira. Eu acompanho as notícias na imprensa, mas sempre aparece algum empecilho que veta a venda. Se entrasse esse dinheiro, daria para o Guarani se reestruturar, principalmente nas categorias de base, para tentar se reerguer.
HELIO SUENAGA/Gazeta Press
Guarani Posado Caxias Série C
Guarani: três meses de salários atrasados
ESPN: O que os torcedores falam quando te encontram na rua? Já pediram pra você assumir a presidência do Guarani?
Fumagalli: Não. A torcida tem um carinho grande por mim, eu sinto isso. Eles estão muito chateados, cabisbaixos, e nos cobram, mas também elogiam, sabem as dificuldades que a gente está passando. Tenho muito carinho, mas ainda não chegou a hora de ir para o outro lado. Futuramente, se tiver um convite da diretoria, pensarei com carinho, porque gosto do lado administrativo também.

ESPN: Você acha que o time conseguirá ao menos se manter na Série C?
Fumagalli: A gente tinha o acesso como objetivo inicial, mas nossa campanha foi extremamente irregular. Caímos de produção nas últimas rodadas, teve mudança de comando... Mas a vitória da última segunda nos trouxe ânimo novo. Agora, com uma nova diretoria, com os salários, quem sabe, sendo acertados, o grupo se fortalece, e a gente fica mais forte para a reta final. Vamos pegar o Guaratinguetá e, se ganharmos, voltamos à briga pela classificação. Estamos a três pontos da zona do rebaixamento, mas também estamos brigando em cima, tá todo mundo no "bolo".
ESPN: Você está com 36 anos. Quanta lenha ainda tem pra queimar?
Fumagalli: Mais um ano ou dois eu ainda tenho condições. Sempre me cuidei, treinei bastante e nunca tive lesões. Vejo Zé Roberto [do Grêmio] com 40 e voando, o Magno Alves [do Ceará] metendo gol aos 40... Sempre fui bom profissional, trabalhei muito, me cuidei bastante.

ESPN: Você participa do Bom Senso FC? O que acha do movimento?
Fumagalli: Eu apoio tudo o que eles estão fazendo, pois estão brigando por coisas boas para o futebol brasileiro, para os jogadores e torcedores. A situação está complicada pra quase todo mundo, tem até time de Série A que não está pagando, imagina os do interior... Precisa haver uma união geral entre todos os atletas, não só da Série A, mas Série B, C, D. Sou totalmente à favor de tudo e já me coloquei à disposição. Se precisarem e quiserem contar comigo, gostaria muito de colaborar.

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