Matéria Especial – As mulheres respondem: Ainda existe machismo no MMA?

Uma pesquisa com profissionais que atuam no esporte sobre um assunto polêmico - Divulgação  UFC/Josh Hedges
Uma pesquisa com profissionais que atuam no esporte sobre um assunto polêmico – Divulgação UFC/Josh Hedges
Planeta Octógono traz uma matéria especial e polêmica.
Abordando um assunto considerado por algumas pessoas como um “tabu” no MMA, o machismo no esporte.
Por ser um esporte ainda mais praticado por homens, este assunto será abordado aqui de maneira diferente.
Convidamos seis mulheres, atuantes no mundo da luta em suas funções e que aceitaram o desafio de responder quatro perguntas formuladas pelo blog.
As lutadoras Juliana Aguiar e Vanessa Melo, jornalistas esportivas Aline Bak e Jéssica Portásio, a cutwoman Renata Takatu e a árbitra de MMA, Mariana Faria exploraram o assunto a fundo.
Leia a opinião de cada uma delas que observam durante seus trabalhos nos eventos de MMA, a postura masculina dentro e fora dos octógonos.
Primeira pergunta: Com a presença grande do público feminino no MMA, você acredita que o esporte mudou?
Julie Aguiar é lutadora de Muay Thai e MMA - Arquivo Pessoal
Julie Aguiar é lutadora de Muay Thai e MMA – Arquivo Pessoal
Juliana Werner - O MMA feminino, está avançando cada vez mais, mas ainda está em crescimento. Nos eventos ainda há apenas uma luta feminina, com poucas exceções.
Ainda há muito para o MMA Feminino crescer, mas já deu um grande avanço e segue avançando.
Vanessa Melo -  Eu acredito que com o publico feminino, o MMA só tem melhorado e tem crescido cada vez mais pois não é só o masculino que tem um nível bom, mas o feminino também.
Mariana Faria - Acredito que o esporte em si não mudou desde o aumento do público feminino. Mudaram as oportunidades, a visão geral do público.
E está mudando cada vez mais. Algumas vezes as pessoas veem as mulheres como algo diferente, mas elas estão mostrando que são profissionais, independente da área de contribuição ao esporte, seja lutadora, cutwoman, árbitra, repórter, announcer.
Vanessa Melo é lutadora de MMA - Divulgação MMA Super Heroes
Vanessa Melo é lutadora de MMA – Divulgação MMA Super Heroes
Aline Bak - Sim, acredito que com a popularização do esporte as mulheres começaram a se inteirar mais. E passaram a gostar de assistir lutas ao lado dos maridos, namorados e amigos.
Renata Takatu - Mudou e vem mudando continuamente.
Jéssica Portásio - Acredito que não. Na minha opinião, a maior divulgação do esporte culminou no aumento do público feminino, mas o MMA em si não mudou.
Segunda Pergunta: Você acredita que existe machismo no MMA? Em que proporção?
Juliana Werner – Hoje, ainda há um pouco sim, mas numa proporção bem menor do que há um tempo atrás.
Aline Bak é jornalista do site Olhar do Fã no MMA - Arquivo Pessoal
Aline Bak é jornalista do site Olhar do Fã no MMA – Arquivo Pessoal
Vanessa Melo –  Eu acredito que sim, existe sim homens que acham que mulher é fraca, essas coisas do gênero mas pelo contrário a mulher é muito forte, e também consegue proporcionar bom treino sim, e não é porque mulher luta que ela vai mudar o jeito feminino de ser ou vai treinar, lutar com interesse em alguma coisa.
A determinação é a mesma sendo homem ou mulher é tudo a mesma coisa, e sim tem muitos homens que tem preconceitos e acham que mulher que luta é “macho” ou algo do tipo, que mulher não pode lutar porque é sexo frágil, lógico que não, mulher pode fazer tudo o que ela quiser.
Mariana Faria - De certa forma há o machismo, mas acho que não o machismo preconceituoso, mas a proporção é alta. Acho que um erro feminino aparece mais que um erro masculino, talvez por ter poucas mulheres na área, as pessoas ainda não tem a mesma visão de seriedade como tem dos homens.
Jéssica Portásio entrevistando o campeão peso galo do UFC, Dominick Cruz - Crédito: Ground and Pound/Germany
Jéssica Portásio entrevistando o campeão peso galo do UFC, Dominick Cruz – Crédito: Ground and Pound/Germany
Aline Bak - Acredito que exista um pouco sim. Casos isolados. Ainda temos que provar que  entendemos de lutas. E no caso das lutadoras elas ainda tem que provar que são boas iguais aos homens no octógono.
Renata Takatu - Infelizmente existe sim. De vários tipos diferentes dentro do MMA, mas se somarmos tudo, ainda temos uma proporção considerável.
Jéssica Portásio - Com certeza existe machismo no MMA, e não é pouco. Quando um veículo posta alguma notícia sobre uma lutadora, uma boa parte dos comentários dos leitores menciona a beleza e a forma física da atleta isso quando a própria matéria não destaca esses aspectos.
As mulheres só entraram no UFC porque uma lutadora “bonita” provou o seu valor, atropelando todas as adversárias. Antes disso, o MMA feminino só começou a ter destaque mundial quando outra lutadora “bonita” conseguiu uma boa sequência de vitórias.
Vamos nos lembrar dos últimos ensaios fotográficos da Ronda Rousey. Em quantos deles ela não estava de biquíni ou completamente nua?
A mulher fez história, abriu as portas da maior organização de MMA do mundo para as lutadoras. Por que é preciso retratar a primeira campeã do UFC desta maneira?
Porque a revista vai vender muito mais, e as galerias de fotos vão render mais cliques. Não que a Ronda não deva fazer ensaios sensuais, isso é uma opção dela. Mas não precisa ser só isso.
E, claro, temos as ring girls. De maneira nenhuma estou criticando as meninas, mas sim essa necessidade de usar a figura da mulher sensual nos intervalos entre rounds.
Terceira Pergunta:  Como vocês observam a chegada do MMA Feminino ao UFC? E o que isto pode ajudar a diminuir a discriminação sobre as mulheres no esporte?
Renata Takatu é cutwoman da primeira equipe feminina brasileira no esporte e integra a Comissão Atlética Brasileira de MMA com chefe do setor de cutmans - Divulgação MMA Super Heroes
Renata Takatu é cutwoman da primeira equipe feminina brasileira no esporte e integra a Comissão Atlética Brasileira de MMA com chefe do setor de cutmans – Divulgação MMA Super Heroes
Juliana Werner - A chegada do MMA Feminino ao UFC, foi um despertar, um acordar, dizendo que elas estão chegando cada vez mais.
A visibilidade para as mulheres no MMA, cresceu bastante e foi como se dissesse: elas vieram e pra ficar. Quando o UFC abrir outras categorias, pode-se dizer que isso se concretizou.
Vanessa Melo – Eu acho ótimo, pois do mesmo jeito que alguns homens tem o sonho de lutar no UFC, algumas mulheres também.
Então eu acho o máximo abrirem este espaço feminino, até pra atrair mais publico também, acredito que ajudaria sim a diminuir o preconceito por ver que as mulheres também podem chegar longe e mostrar seu trabalho no maior evento do mundo atualmente que é o UFC.
Tem espaço para todos tanto homem como mulher para mostrar seu trabalho e fazerem o que tanto amam, que é lutar, cada um no seu espaço, cada um no seu quadrado.
Mariana Faria - Vejo como um leque de oportunidades. Acho legal as mulheres atuando em áreas inicialmente masculinas.
O UFC, até bem pouco tempo atrás, era visto apenas como “área masculina” para atletas, mas hoje isso já mudou.
As lutas femininas nos eventos do UFC mostram a capacidade das lutadoras no cage e, sendo um evento mundial, servem de inspiração para as outras lutadoras do mundo todo.
Se procurarmos, há muitas mulheres com mais tempo de experiência que alguns homens e a divulgação de lutas e campeonatos ajuda a diminuir essa diferença.
Aline Bak - Um grande avanço em todos os aspectos. Antes era dificil pensar que as mulheres iriam traçar voos mais longes ligados as artes marciais. Hoje esse cenário mudou.
Tem um valor agregado quando falamos que trabalhamos pelo esporte. Mas acredito que ainda temos um longo caminho para percorrer.
Renata Takatu - É um avanço e uma vitória! Mulheres e brasileiras, então, só nos dão mais orgulho e servem de exemplos para novas gerações que estão vindo.
Como hoje o UFC é tido como referência, acredito que a presença das mulheres lá começará a abrir muito mais portas, elas estão mostrando que não existe diferença, mulheres ou homens estão ali para mostrar técnica, qualidade e evolução no esporte.
Jéssica Portásio - A chegada das mulheres ao UFC é sem dúvidas uma coisa maravilhosa para o esporte. É a oportunidade de fazer com que as lutadoras tenham o seu valor reconhecido.
Quarta Pergunta: O que fazer em sua opinião para mudar ou pelo menos minimizar este problema consideravelmente? 
Mariana Faria é uma das pioneiras na árbitragem feminina do MMA Brasileiro - Crédito: Welington Borges
Mariana Faria é uma das pioneiras na árbitragem feminina do MMA Brasileiro – Crédito: Welington Borges
Juliana Werner - Devido a mídia e ao destaque do MMA feminino, este problema vem ultrapassando essas barreiras. Conquistando seu espaço num universo antes masculino, onde as mulheres também estão fazendo boas
lutas, lutas excelentes e também lutas razoáveis como os homens.
Vanessa Melo – Eu acho que fazer algo seria bem difícil pois é muito particular isso.
Se o cara acha que é feio mulher lutar, acho que seria meio difícil mudar esta opinião, mas eu acho que a mulher sendo bem feminina e lutando acho que melhoraria sim um pouco a visão.
Já que as pessoas criam muito esteriótipos em relação a lutadoras femininas.
Mariana Faria - Não dá para dizer que há igualdade entre homens e mulheres, pois o MMA começou tipicamente masculino e talvez demore um pouco para isso acontecer, porém as oportunidades dadas às mulheres já é um passo e tanto para diminuir o preconceito.
Acredito que todos devem ter confiança de que as mulheres são responsáveis e possuem os seus diferenciais.
Elas também treinam, estudam golpes, vão atrás de informações, são táticas. Minha sugestão para minimizar este problema seria eventos organizados por mulheres.
Aline Bak - Acredito que ainda falta incentivo de algumas mídias e empresas. Ainda não temos tanto retorno e visibilidade.
Renata Takatu - Eu acredito que a mulheres precisam impor a sua força. Sejam lutadoras, jornalistas, cutwomen, árbitras ou simplesmente espectadoras.
Que a cada barreira encontrada frente a uma atitude machista, batam o pé e mantenham-se firmes, ou batam de frente quando necessário, pois em diversos setores da vida a mulher já provou ser capaz, no MMA não será diferente.
Jéssica Portásio - Acredito que uma solução seria apelar menos para a sensualização das mulheres no esporte e tentar focar mais nos talentos e habilidades das atletas, que treinam tão duro e fazem tantos (ou mais) sacrifícios que os homens.
Brasil é um dos maiores exportadores de lutadoras do MMA feminino no Mundo como exemplo, o caso de Cris Cyborg - Divulgação Invicta FC
Brasil é um dos maiores exportadores de lutadoras do MMA feminino no Mundo como exemplo, o caso de Cris Cyborg – Divulgação Invicta FC

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