Dunga, a convocação e o craque

Mowa Press
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Nesta terça-feira, Dunga fará sua primeira convocação. Se tiver juízo, não jogará a águia suja da bacia juntamente com o bebê. Apesar da catástrofe da Seleção Brasileira na Copa, vários dos seus integrantes merecem seguir em frente com a canarinho. Por exemplo: a dupla de zagueiros Thiago Silva e David Luís; o volante Luís Gustavo e o meia Oscar, além de Neymar, claro, e, talvez, William, mais dois ou três que tenham idade para chegar à próxima Copa ainda em forma.
Mas, isso vai depender do modelo que Dunga escolher para a nova Seleção. Se vai dar sequência ao velho e superado sistema que privilegia um meio campo mais defensivo, cheio de volantes, ao estilo de Felipão e dele próprio, ou se dará uma guinada em direção ao futuro, com mais meias do que volantes, jogadores hábeis e criativos por ali.
O certo, segundo suas próprias declarações, é que buscará mesclar jogadores jovens e veteranos, combinação de certa forma prejudicada pela acoplagem da Seleção Olímpica de Gallo ao calendário do time de Dunga. Mas, como por aqui impera a burrice, vamos em frente.
E à frente da meta surge o primeiro impasse. Com a óbvia exclusão de Júlio César, entre outras coisas, pela idade, quem será escolhido por Dunga? Ou, nesse caso, a palavra final será de Taffarel, o preparador de goleiros do técnico? Se for, dizem que Diego Alves, do Valência, é o preferido. Bom goleiro, mas nada de fenomenal, tipo Dida e Marcos de Copas passadas.
Outra posição em aberto é a lateral. Aliás, as duas laterais.
E aqui me recordo de um papo que eu e o Cleber Machado tivemos com Parreira antes da primeira chamada de Felipão, quando insistimos no nome de Danilo, ex-santista e atualmente titular do Porto. Jovem, bom porte físico, marca bem e ataca ainda melhor, podendo jogar também como volante, sua posição original.
Falando nisso, na esquerda, outro jovem com as mesmas características e igual trajetória: Max Sandro, também ex-Santos e atual Porto.
Ainda outro dia estava espiando o Porto vencer o Marítimo e ambos jogaram muito bem.
No meio de campo, nem há o que pensar. Everton Ribeiro, canhotinho do Cruzeiro, campeão brasileiro e líder do Brasileirão deste ano, está esmerilhando desde os seus tempos de Coritiba. Já merecia ter sido chamado por Felipão e até mesmo por Mano.
Caso similar ao de Diego Tardelli, que tanto pode jogar no meio de campo quanto no ataque, pelos lados ou por dentro. Hábil, veloz, incansável na movimentação constante e ainda por cima artilheiro. Seria, na verdade, a solução ideal para o comando de ataque, onde nenhum outro se destaca, aqui ou fora do país. Mas, isso, exigiria uma mudança de conceito de Dunga que prefere, claro, como a maioria dos nossos treinadores, um centroavantão lá na frente. Dos disponíveis no momento, nesse padrão, resta apenas Alan Kardec, que já havia sido cogitado por Felipão.
De resto, é esperar a palavra final do técnico.
Dunga e o craque
Quem me chama a atenção para o assunto é o solerte Mário Magalhães, parceirinho querido dos tempos da Folha em duas Copas do Mundo, em seu blog na UOL.: em entrevista à revista Época, perguntado pelo Maklouf se Neymar era craque, o técnico da Seleção Brasileira recorreu ao velho chavão que roda de padaria em padaria – pra ser considerado craque, o cara precisa do timbre de campeão do mundo.
Isso me faz lembrar de um desabafo jocoso de Mestre Ziza, o Zizinho, depois da conquista do Tri:
- O Fontana foi campeão do mundo e eu não fui.
Vale dizer que o falecido Fontana, gente boa, era um quarto-zagueiro do Vasco de belo porte físico que distribuía porrada a rodo e de técnica reduzida.   Com o recuo de Piazza para a zaga, ele passou a ser o terceiro reserva da Seleção no setor, atrás de Joel Camargo. E Mestre Ziza, assim chamado pelos próprios companheiros de profissão, foi o mais completo jogador de futebol que já vi em campo nestas mais de seis décadas apreciando a bola rolar daqui pra lá. Tanto, que, na Copa de 50, foi denominado O Leonardo da Vinci da Bola. Referência ao gênio da Renascença, mestre em vários campos da imaginação humana, da pintura à engenharia.
Aliás, poderia escalar aqui, assim de improviso, uma verdadeira Seleção de Craques Brasileiros de Todos os Tempos que nunca foram campeões do mundo: Barbosa ou Oberdã; Leandro, o Divino Domingos da Guia, Danilo Alvim e Júnior; Falcão ou Bauer, Zizinho e Zico; Julinho Botelho, Leônidas da Silva e Canhoteiro. E o amigo pode aí acrescentar uma infinidade de outros craques brasileiros que nunca empalmaram a taça: Romeu, Tim, Jair Rosa Pinto, Ademir de Menezes, Ademir da Guia, Sócrates, Reinaldo, Dirceu Lopes, Careca, se for catalogar todos dá uma lista telefônica.
E os estrangeiros, então? Di Stefano, Moreno, Pedernera, Labruna e Messi, o ataque argentino dos sonhos, sem Maradona, que foi campeão. Todos craques, alguns mitos, nenhum campeão do mundo. Acrescente aí  Puskas, Eusébio, Platini, Kopa, Kubala, Crujyff, Figo, Cristiano Ronaldo, Rivera, Baggio, sei lá quantos mais.
A imensa maioria desses citados Dunga nem sabe que existiu. Outros, jamais viu em ação. E, como sua imaginação não escapa das limitadas margens de seu conhecimento, então prefere cair nesse lugar-comum divulgado pelo gozador Romário na sua antiga pinimba com Zico:
- Eu fui campeão do mundo; ele, não.
Pois é, todos os relembrados acima não foram campeões do mundo. E Dunga, sim.

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