Dunga x Tite: 10 motivos para o Brasil estar com um pé na Copa de 2018
Números mostram como Tite obteve sucesso para tirar a seleção de uma possível não classificação para a Copa do Mundo até a liderança isolada das Eliminatórias
Tite está invicto nas Eliminatórias: seis vitórias em seis partidas (Foto: EFE)
O desafio era grande. Quando Tite assumiu o comando da seleção brasileira, a equipe ocupava a incômoda sexta posição nas Eliminatórias para a Copa da Rússia de 2018 e, naquele momento, não figurava na zona de classificação para a Copa do Mundo - algo que seria inédito no país. Desde o fatídico 7 a 1, o time passou por uma crise de identidade e conviveu com a desconfiança de torcedores e jornalistas brasileiros. No entanto, seis jogos depois, o atual técnico do Brasil recuperou a confiança da seleção.
Uma possível não participação na próxima Copa do Mundo está praticamente descartada. Segundo o site Infobola, do matemático Tristão Garcia, o Brasil tem 99% de chances de ir à Copa do Mundo de 2018. Nas contas de Tite, basta ao Brasil somar apenas mais um ponto, que, dessa forma, já garantiria estar entre os quatro primeiros das Eliminatórias.
Para entender como o ex-técnico do Corinthians conseguiu mudar o panorama da seleção brasileira, o Espião Estatístico trouxe números do Brasil sob o comando de Dunga pelas Eliminatórias e os comparou com os de Tite. Como cada treinador esteve a frente da equipe por seis vezes até o momento na competição (Dunga foi o técnico da 1ª a 6ª rodada e Tite da 7ª a 12ª), a comparação entre ambos se faz válida. Confira a seguir os 10 motivos que fizeram o atual técnico da seleção brasileira colocar o Brasil quase classificado para a Copa da Rússia.
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APROVEITAMENTO DOBROU
Brasil sob comando de Dunga nas Eliminatórias: 50% de aproveitamento (Foto: Lucas Figueiredo / MoWA Press)
Se com Dunga, a desconfiança era geral, com Tite o panorama modificou em um estalar de dedos. O Brasil não emplacou nas primeiras seis rodadas das Eliminatórias, sob o comando do capitão do tetra. Foram apenas nove pontos conquistados em 18 possíveis: duas vitórias, três empates e uma derrota. A seleção estreou com derrota de 2 a 0 para o Chile fora de casa. Venceu duas seleções fracas: Venezuela e Peru, atuais última e antepenúltima colocadas. Além disso, empatou fora de casa contra Argentina e Paraguai, além de repetir o resultado sem vencedores contra o Uruguai, na Arena Pernambuco.
Os maus resultados fizeram com que a CBF decidisse pela demissão de Dunga do cargo de treinador da seleção, em junho do ano passado. Em seu lugar, Tite veio e já mostrou de cara que foi um bom nome para substituí-lo. A campanha de nove pontos de Dunga ou 50% de aproveitamento nas Eliminatórias virou - separando o desempenho de cada treinador - uma trajetória de 100% de aproveitamento com Tite. Ou seja, dobrou. Só não melhorou mais porque a matemática não permite. Em seis partidas da competição continental com Tite como treinador foram seis vitórias. Equador, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Argentina e Peru foram as vítimas: nenhuma conseguiu tirar qualquer ponto da seleção brasileira.
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GOLS AUMENTARAM: MELHOR ATAQUE DA COMPETIÇÃO
Na "Era Dunga", o Brasil marcou 11 vezes e tinha o quarto melhor ataque das Eliminatórias da América do Sul. Uruguai, Equador e Chile tinham até então os melhores ataques: 12 gols cada. Mas, com Tite, o Brasil assumiu o posto de melhor ataque da competição, e com folga. Com os 17 gols feitos com o atual treinador da seleção, o Brasil já soma 28 gols pró. Isso garante a equipe brasileira com folga na liderança do quesito se comparado ao segundo colocado: o Uruguai, próximo adversário do Brasil nas Eliminatórias, tem 24.
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DEFESA VIRA A MENOS VAZADA
Com Tite como treinador, Brasil levou apenas um gol (Foto: Marlon Costa/Futura Press)
Grandes times contam com defesas consistentes e que, principalmente, tomam poucos gols. Talvez um dos grandes trunfos de Tite seja ter acertado a defesa. Nas primeiras seis rodadas, o Brasil tinha apenas a quinta melhor defesa das Eliminatórias ao lado da Colômbia - cada um já havia sofrido oito gols. Uruguai, Argentina, Paraguai e Equador estavam a frente no quesito de melhores defesas. Os seis primeiros jogos da seleção comparados aos seis seguintes mostram uma diferença gritante. Antes, o Brasil só não tinha levado gol em um jogo (no último compromisso da seleção em 2015 com a vitória de 3 a 0 sobre o Peru). Depois, apenas na partida contra a Colômbia, o goleiro Alisson viu sua rede balançar. E ainda assim com um gol contra: Marquinhos tentou cortar falta batida por James Rodríguez e botou a redonda no fundo do próprio gol.
Quando Dunga ainda comandava a seleção, o time havia tomado oito gols em seis partidas pelas Eliminatórias. Depois, com Tite no comando, a defesa se acertou e o Brasil levou apenas um. Com a melhora de rendimento na defesa, a equipe brasileira passou a ser o time com menos gols sofridos da competição: nove. Do outro lado, a Bolívia - a mais vazada - levou 31.
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DIVERSIFICAÇÃO DOS ARTILHEIROS
Novos artilheiros apareceram e mais jogadores diferentes marcaram pela seleção brasileira assim que Tite virou o técnico. Principal nome do Brasil, Neymar não havia feito gol nas Eliminatórias para a Copa da 2018 enquanto Dunga era treinador. Já com Tite, ele fez quatro. Na "Era Dunga" não havia um artilheiro somente, mas quatro: Willian, Ricardo Oliveira, Renato Augusto e Douglas Costa. Todos com dois. Além deles, outros três jogadores balançaram as redes uma vez cada: Lucas Lima, Filipe Luís e Daniel Alves. No total, o Brasil contou com sete atletas diferentes marcando gols pela seleção nos seis primeiros compromissos na competição.
Com o novo treinador, dois jogadores se destacaram na artilharia: Gabriel Jesus e Neymar fizeram, respectivamente, cinco e quatro gols sob o comando do ex-técnico do Corinthians. Destaque no Liverpool, Philippe Coutinho passou a brilhar mais com a camisa da seleção e fecha o Top 3 com dois gols. Além dos três, Miranda, Filipe Luís, Roberto Firmino, Willian, Renato Augusto e Paulinho marcaram uma vez cada pela seleção entre as rodadas 7 e 12.
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NEYMAR CALIBRA O PÉ
Neymar aumenta eficiência de suas finalizações em quase 25% (Foto: EFE)
Neymar havia passado em branco nas partidas que disputou pelas Eliminatórias quando era comandado por Dunga. Um motivo para isso foi a falta de pontaria. Apesar de ser o segundo maior finalizador da seleção na "Era Dunga", os gols não vieram. O craque do Barcelona arrematou 10 bolas em direção ao gol, mas apenas duas tomaram o caminho do gol e necessitaram a intervenção do goleiro adversário. As outras oito foram para fora ou bloqueadas pela zaga do outro time. Também teve o fato de cumprir suspensão nas duas primeiras rodadas, punição herdada de uma expulsão na Copa América de 2015.
Já com Tite, Neymar calibrou o pé e voltou a fazer a alegria dos torcedores brasileiros. Como característica de finalizador, Neymar passou a ser o jogador com mais arremates da seleção comandada por Tite: foram 17 no total. Como ele marcou quatro vezes nas 17 vezes que tentou, sua eficiência aumentou - e muito. O camisa 10 foi o que melhorou mais o rendimento das suas finalizações quando comparado com os demais companheiros. De 0% para 23,52%, um aumento considerável.
No Ranking de Eficiência das Finalizações vale destacar uma figura importante da seleção: o lateral esquerdo Filipe Luís. Ele manteve os 100% de aproveitamento tanto com Dunga quanto com Tite. Isso porque nas duas vezes que ele chutou a gol, o resultado foi a bola no fundo do gol. Veja o ranking ao lado e confira o desempenho de todos os jogadores brasileiros que finalizaram a gol nestas Eliminatórias desde a 1ª rodada.
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NOVA PEÇA-CHAVE: GABRIEL JESUS
Um dos destaques da seleção de Tite: Gabriel Jesus (Foto: Pedro Martins / MoWA Press)
Convocado apenas a partir da troca de técnico na seleção, Gabriel Jesus mostrou, em campo, o porquê mereceu estar presente em todas as convocações de Tite. O garoto de 19 anos assumiu o posto de camisa 9 do Brasil e mostrou serviço de imediato. Ele é o artilheiro da seleção brasileira comandada por Tite com cinco gols. Titular em todas as partidas, Gabriel Jesus é o segundo que mais finaliza na equipe, com 15 arremates. Quase metade foi em direção ao gol e os outros oito chutes passaram por cima da meta ou foram para fora pelo lado. A sua eficiência nas finalizações é a quarta maior da equipe: 33,33% de acerto para o jovem atacante do Manchester City.
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NEYMAR AUMENTA PARTICIPAÇÃO EM GOLS
Enquanto Willian, meia do Chelsea, foi o grande destaque da seleção brasileira nas Eliminatórias sob o comando de Dunga, a partir da mudança no comando Neymar assumiu esse papel. O primeiro participou de cinco dos 11 gols da seleção, um percentual elevado de 45,45%. Já o segundo voltou a chamar a responsabilidade para si e nove dos 17 gols do Brasil com Tite saíram dos seus pés. Neymar teve uma porcentagem de participação de incríveis: 52,94%.
O camisa 10 ganha destaque porque com Dunga, ele havia participado de apenas um gol: a assistência que deu para Renato Augusto no empate em 2 a 2 com o Uruguai pela 5ª rodada da competição. Isso dava a ele uma porcentagem de apenas 9,09% de participação nos gols da seleção. Agora, ele aumentou sua participação nos gols da seleção em 43,85% quando comparado seus respectivos desempenhos sob os comandos de Tite e Dunga.
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EFICIÊNCIA AÉREA MELHOR
comparação entre Tite e Dunga 3 (Foto: Infoesporte)
O Brasil finalizou mais com Tite do que com Dunga. Mas, as jogadas aéreas diminuíram levemente: foram 24 com Dunga e 22 com Tite. Isso revela que a seleção de Dunga explorava mais a finalização vinda pelo alto. Por isso, 30,76% dos ataques do Brasil do ex-técnico da seleção foram aéreos. Enquanto que com Tite, esse número cai um pouco para 25,58%. Ou seja, o Brasil, mesmo finalizando mais, optou pelo jogo rasteiro do que o aéreo.
No entanto, apesar de ter diminuído um pouco os ataques pelo alto, o Brasil de Tite conseguiu um melhor desempenho do que o Brasil de Dunga. A eficiência do jogo aéreo do primeiro foi de 13,63% enquanto o segundo foi de 12,5%. Como a seleção brasileira fez seis gols aéreos nas Eliminatórias - três com cada treinador -, a seleção de Tite é mais eficiente porque precisou finalizar menos vezes para ver a mola morrer no fundo da rede.
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CHUTAR DE FORA DA ÁREA É UM CAMINHO
A seleção brasileira não tem feito muitos gols de fora da área nas Eliminatórias: foram apenas quatro (um com Dunga e três com Tite). Mas um fato é certo: a eficiência do Brasil neste quesito também melhorou com o novo técnico. Antes o time precisou finalizar 36 vezes de fora da área para marcar um único gol. Ainda assim, o gol de Renato Augusto na vitória do Brasil de 3 a 0 sobre o Peru na quarta rodada da competição foi da meia-lua: não tão distante assim da grande área. Apesar de 46,15% dos chutes da seleção de Dunga nas Eliminatórias terem sido de fora da grande área, a eficácia nestes arremates foi de apenas 2,77%.
A partir da sétima rodada, o Brasil continuou finalizando bastante de fora da área: foram 38 vezes. Mas, apesar de ter feito apenas três gols nesta região do campo, a eficiência neste tipo de finalização melhorou com Tite. Na verdade, quase triplicou: foi de 2,77% para 7,89%. Ainda não é um número de encher os olhos mas evidencia evolução;
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MENOR RODÍZIO DE ATLETAS EM CAMPO
A repetição de escalação oferece a possibilidade de um maior entrosamento dos atletas em jogo. E o que se pode observar nos jogadores que entraram em campo pela seleção com Dunga e com Tite é que o primeiro testou mais jogadores em campo que o segundo. É fato que a base da seleção já estava montada, mas Tite conseguiu consolidar as posições que ainda eram falhas na equipe e conseguiu repetir a escalação de peças fundamentais para a sua filosofia de jogo. Com Dunga, 23 jogadores diferentes entraram em campo pelo Brasil e com Tite esse número caiu para 19.
Brasil de Tite testou 19 jogadores diferentes nestas Eliminatórias (Foto: Pedro Martins / MoWA Press)
Com Dunga, a dupla de zaga titular mudou três vezes, variando entre Miranda e David Luiz, Miranda e Marquinhos e Miranda e Gil. Dentre eles, apenas um se consolidou como titular absoluto da seleção de Tite: o zagueiro do Internazionale, Miranda. Ele formou a dupla de zaga titular ao lado de Marquinhos em todos os jogos comandados por Tite nas Eliminatórias.
Outro jogador fundamental até o momento e que foi titular em todas as seis partidas é o atacante Gabriel Jesus. Ele começou jogando em todos os seis confrontos de Tite pela competição continental e ajudou o Brasil a conquistar seis vitórias nos últimos seis jogos do torneio.
* A equipe do Espião Estatístico é formada por: Eduardo Sousa, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Marcio Menezes, Paula Carvalho, Roberto Maleson, Valmir Storti e Wilson Hebert.
* Estagiário, sob a supervisão de Cassius Leitão
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