Além do resultado, título brasileiro sub-20 mostra bom trabalho na base do Botafogo
Foi uma conquista justa, sem contestação. O Botafogo, que já havia batido na trave em 2015 na Copa do Brasil Sub-17, venceu um torneio nacional sub-20 e deixou uma mensagem clara: depois de muitos anos, é, enfim, um time capaz de formar e ganhar na base.
Os méritos da conquista passam, obviamente, pelo campo. Por uma defesa bem montada pelo técnico Eduardo Barroca, pela segurança de Marcelo, melhor em campo no primeiro jogo, pela boa batida na bola de Marcinho, que era atacante e foi adaptado na lateral direita. Pela firmeza de Kanu (também ex-atacante que virou zagueiro no sub-17) e pela regularidade do lateral-esquerdo Victor, campeão de assistências do time no título estadual.
Passam também pelo meio-campo, com Gustavo Buchecha e sua excelente distribuição de jogo, e Matheus Fernandes, melhor jogador do time, autor do corta-luz sensacional no lance do primeiro gol. E Yuri, que era lateral-esquerdo no ano passado, fazendo gols decisivos. Passam pelo ataque, com os seis gols de Renan Gorne. Mas passam principalmente pela força coletiva do time e pela paciência que os profissionais da base tiveram em formar os jogadores.
Trocando em miúdos, não há nenhum Messi na base alvinegra. Há, sim, jogadores com potencial, batalhadores, muitos deles dispensados por outros clubes. Victor, o lateral-esquerdo, não conseguiu se firmar em Flamengo e Palmeiras. Gustavo Buchecha chegou a passar pelo Fluminense e não ficou. Yuri, autor de dois gols na decisão, chegou a ser emprestado para a Gonçalense numa parceria que durou pouco tempo. A força coletiva deles é que chama a atenção, e aí há também um mérito de quem trabalha fora das quatro linhas.
A comissão técnica faz um belo trabalho e é comandada por Eduardo Barroca, que assumiu o cargo em março e já deu duas voltas olímpicas (além do Brasileiro Sub-20, o time foi campeão estadual). Com longa experiência em equipes profissionais, Barroca foi auxiliar de vários técnicos diferentes entre si, como Joel Santana, Doriva, Celso Roth, Falcão, Wagner Benazzi e Cristóvão Borges, entre outros, e certamente trouxe essa bagagem para a base.
O coordenador técnico Eduardo Freeland também é elogiado internamente. Com um discurso diferente de vários dirigentes, ele prioriza a questão social do jogador e prega a paciência na formação. O fato do Botafogo ser um pouco menos procurado do que outros grandes facilita esse trabalho, pois os jogadores têm mais tempo de desenvolvimento e podem, teoricamente, ser melhor trabalhados.
O diretor da base, Manoel Renha, teve o mérito de analisar os profissionais gestão anterior e não fazer terra arrasada, demitindo todo mundo. Assim, uma linha de trabalho foi mantida, e os frutos foram colhidos também nos profissionais, com a ascensão de 12 jogadores para o time de cima, além do técnico Jair Ventura, também vindo da base .
Há, claro, muito a evoluir. A estrutura da base, que já foi horrorosa em Marechal Hermes e em certo momento deficiente até em material de treinamento, melhorou bastante, mas ainda está longe do ideal, mesmo com a reforma de Caio Martins e o time utilizando o Cefat, em Maricá. Não há como comparar com clubes como São Paulo e Atlético-PR, só para ficar em dois exemplos que estão no topo.
A transição para os profissionais é outro desafio, não só do Botafogo, mas da maioria dos clubes brasileiros. Muitos jogadores se perdem nesse processo, e cabe ao clube tentar minimizar essas perdas, consolidando uma filosofia de trabalho que priorize o uso da base mesclando com jogadores experientes para dar o suporte necessário aos garotos. O Alvinegro ainda precisa de uma sequência de trabalho nesse sentido, mas parece estar no caminho certo. E não apenas pelo resultado desta terça-feira.
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