Canal relâmpago agitou TV fechada e deixou fãs órfãos ao falir em 2 anos 3

O início do ano 2000 foi marcado por uma revolução no mundo das TVs por assinatura. Com um investimento milionário do grupo Hicks Muse Tate & Furst (o mesmo que injetou dinheiro em Corinthians e Cruzeiro), a PSN (Pan American Sports Network) foi ao ar com o objetivo de agitar o mercado e, em três anos, se transformar no maior canal esportivo fechado do continente.
O lançamento foi feito com pompa e uma carteira de eventos de deixar os fãs empolgados, como os direitos exclusivos da Copa Libertadores, Copa da Uefa, Campeonato Italiano, Mundial de Clubes, Copa Mercosul, Copa Merconorte, Eliminatórias da Copa do Mundo, Fórmula 1 (para a América Latina), WNBA e Liga Sul-Americana de Basquete. Além disso, o canal tinha em sua programação partidas da NBA, torneios da ATP e WTA, o Aberto dos Estados Unidos e campeonatos de golfe. O slogan não era menos empolgante. A frase “Paixão pelo Esporte” tornou-se uma marca registrada do canal.
Na estreia, possuía em suas fileiras para a versão brasileira os narradores Rogério Correa, Teo José, Marcos César, Marco Túlio Reis e comentaristas como Antonio Petrin, Mauro Beting e João Bosco Tureta. Até mesmo Pelé contava com um programa quinzenal na emissora baseada em Hollywood, nas proximidades de Miami.
No papel, tudo era perfeito. Mas as coisas não funcionaram bem, e um canal que deveria ser referência na transmissão de eventos esportivos só durou dois anos, frustrando espectadores e os profissionais que deixaram o Brasil para abraçar o projeto. Ao longo de 24 meses, a situação econômica da Hicks Muse foi se deteriorando até a situação do canal se tornar insustentável.
Em março de 2002, semanas antes de ter decretada a sua falência, a PSN saiu do ar. Tinha fim ali a aventura de uma emissora que fizera sua estreia em 15 de fevereiro de 2000, com o duelo entre Palmeiras e The Strongest (BOL) pela Copa Libertadores. Aquela partida no Palestra Itália, vencida pelo Alviverde por 4 a 0 ficou marcada pelo cafezinho tomado pelo goleiro Marcos. O time boliviano, em uma parceria com a PSN, disputou todo o torneio com o logo da emissora em seu uniforme.
“Eu me dediquei 1000% à PSN, achava que era um canal que teria muito futuro. Batalhei muito nos bastidores também para o canal ter relevância. Fazer aquele jogo de estreia foi muito especial, um marco. Trabalhei ao lado do João Bosco Tureta. Fizemos a transmissão lá dos Estados Unidos. Lembro também de outros momentos marcantes, como a final da Libertadores de 2000, quando o Palmeiras enfrentou o Boca e tivemos o Maradona de convidado na nossa cabine no Morumbi”, contou ao UOL Esporte o narrador Téo José.
“Eu fiquei na PSN do primeiro ao último dia e posso dizer que tudo que aconteceu foi uma grande decepção. A Hicks Muse não tinha tanto interesse para que o canal fosse tão grande como promoveram. Por diversos erros, os resultados não foram alcançados. Era um projeto bacana e grandioso que não deu certo. Tenho certeza que todos que trabalharam lá ficaram extremamente frustrados. Não foi uma experiência tão bacana”, completou o hoje narrador da Bandeirantes.

psn

A frustração também foi grande para os assinantes que gostavam de seguir todas as partidas da Copa Libertadores pela PSN. A emissora possuía exclusividade para TV fechada em 2002. Com sua falência logo no início do torneio, os torcedores de Flamengo, Grêmio, Atlético-PR e São Caetano ficaram na dependência da Globo para seguirem suas equipes. Para se ter uma ideia, finalista daquela Libertadores, o Azulão só teve as partidas decisivas contra o Olimpia (PAR) exibidas no país., além do duelo de volta da semifinal com o América-MEX.
Com o fim do canal, todos os direitos de transmissão que a PSN possuía foram repassados a Fox Sports e a Torneos y Competencias na América Latina. No Brasil, foram divididos entre vários canais. A Libertadores, por exemplo, foi exclusiva do SporTV até o fim da edição de 2011.
“A PSN entrou no mercado para dominar, mais ou menos como a Fox Sports quer fazer hoje. Foi um canal maravilhoso, mas aconteceram muitos rolos. Muita coisa deu errada ao longo dos meses. É uma pena que não tenha dado certo, pois era um lugar maravilhoso para se trabalhar. Nós tínhamos uma estrutura fantástica”, disse Juarez Araújo, que era comentarista do canal e hoje trabalha como assessor da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).
Quando encerrou suas atividades, a PSN contava com cerca de 850 mil assinantes em todo o Brasil. O número era bastante expressivo, ainda mais levando-se em conta que em um primeiro momento era um canal a la carte. Ou seja, era necessário desembolsar um dinheiro a mais para tê-lo em seu pacote.

PASION

FUNCIONÁRIOS FORAM PEGOS DE SURPRESA

O fechamento da PSN surpreendeu a todos que trabalhavam na emissora. Até um dia antes de o canal sair do ar, ninguém havia sido comunicado da gravidade da situação. Com o fim das atividades, a direção da PSN pagou apenas o último salário de seus funcionários.
“Tinha um contrato de mais cinco anos que acabou rescindido. Quando o canal fechou, pagaram apenas meu último salário. O processo de falência deles foi muito bem feito, sem dar nenhum tipo de brecha. Foi todo conduzido nos Estados Unidos. Eu entrei na massa falida e ganhei uma quantia ridícula”, disse Téo José.
Juarez Araújo, que assim como todos os demais contratados teve a ida aos Estados Unidos toda bancada pela PSN, também lembra de momentos desagradáveis quando a emissora chegou ao fim.
“Foi um baque muito grande. Quando fomos para lá, pagaram visto, passagem para toda a família, nosso aluguel. Quando acabou, só pagaram o último salário e tivemos de arcar com todos os gastos. Isso foi muito ruim”, contou.

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