Presidentes amigos e dirigentes de estatal fizeram Bota e Fla dividirem teto em 2005
Ideia de Bebeto de Freitas foi adotada por Márcio Braga para dividir Ilha: "Quem paga nossa conta são os rivais", dizia rubro-negro. Na Petrobras, alvinegro e rubro-negro foram entusiastas de projeto
Em 2005, a ideia partiu do presidente do Botafogo e foi encampada pelo mandatário rubro-negro. Na ocasião, com o Maracanã em obras para o Pan-Americano de 2007, Bebeto de Freitas procurou João Henrique Areias para fazer a ponte com Márcio Braga. A missão era ampliar e dividir a administração do estádio do Luso-Brasileiro.
Com o estádio da Portuguesa saindo do modo Arena Botafogo para Ilha do Urubu, com direito a desmonte e remontagem partindo do zero, o trato entre os clubes hoje parece impensável. Embora os presidentes Carlos Eduardo Pereira e Eduardo Bandeira de Mello deem sinais de fim das alfinetadas, o acordo à época foi simples assim.
- O Bebeto ia sempre lá na Portuguesa e chegou a conclusão que dava para fazer estádio de 25 mil pessoas. Ele me chamou e perguntou se o Márcio toparia, porque o Flamengo sempre tem postura assim, às vezes arrogante com os coirmãos. Sou conselheiro e digo isso porque passei por lá cinco vezes - comentou Areias.
Ex-vice-presidente do Flamengo e hoje consultor e professor de marketing esportivo, João Henrique Areias contou que foi fácil levar Márcio Braga para o mesmo barco alvinegro. O próprio ex-presidente do Fla justifica:
- Quem paga nossa conta são nossos rivais Vasco, Fluminense e Botafogo. Eu sempre disse isso - disse Márcio Braga.
A conversa com o Botafogo andou rápido. "Apesar do ódio deles (botafoguenses) contra o Flamengo que o Bebeto me contava", ressaltou Márcio Braga, a boa relação entre ele e Bebeto ajudou no entendimento, e João Henrique Areias foi à rua buscar patrocinadores.
A ampliação do estádio - que teve a segunda maior média de público do Brasileiro - saiu por R$ 5,5 milhões, sem os clubes gastarem nada. O aluguel pago à Portuguesa era subsidiado por patrocinadores e os clubes arcavam apenas com os custos de operação dos jogos. Cada um por si.
Na época, o o governo do estado do Rio apoiou, a Petrobras, que tinha dois entusiastas apaixonados por futebol, o alvinegro José Eduardo Dutra, falecido em 2015, e o rubro-negro Rodolfo Landim (na época, presidente da BR, distribuidora da estatal do petróleo), além de outros apoiadores, como a companhia telefônica Telemar/Oi.
- Não houve problema (de relação). Até quem foi acompanhar o Bebeto no edital do Engenhão fui eu. Fui dar força. Não entramos juntos porque esperávamos o Maracanã, que o governador Sérgio Cabral me afirmou faria licitação. Não íamos ficar com Engenhão e Maracanã. Mas o Cabral foi um grande filho da mãe... - lembrou Márcio Braga.
Idealizador do projeto, Bebeto lembrou que as taxas do Maracanã àquela época já eram consideradas absurdas. Os clubes ficavam com o que tiravam da arrecadação das partidas, menos, claro, os custos de cada jogo.
- Tudo sempre foi respeitado. Nem nos clássicos houve problema. Foi um sucesso, principalmente no ponto de vista do negócio, Botafogo e Flamengo não gastaram um tostão para montar o estádio - contou Bebeto.
O ex-presidente alvinegro, crítico da atual gestão de Carlos Eduardo Pereira, lembrou que mundo afora alguns clubes rivais dividem gestão de estádios. Citou Roma e Lazio, Internazionale e Milan na Itália. Além de Juventus e Torino - recentemente a Velha Senhora inaugurou estádio próprio em Turim.
- Enquanto não entenderem que o clube precisa ser gerido como uma empresa sua rentabilidade cai. É uma questão de saber trabalhar profissionalmente. O resto acontece naturalmente - disse Bebeto.
As últimas polêmicas entre Flamengo e Botafogo:
- 26/7 - Na mesma noite em que os dois clubes asseguraram vagas nas semifinais, o Botafogo falou que não abriria mão de jogar no Nilton Santos.
- 27/7 - O Flamengo tinha preferência por jogar na Ilha do Urubu. O presidente Bandeira disse que não levava em conta Maracanã para a disputa.
- 31/7 – Sorteio na CBF define que o Flamengo será o mandante no segundo jogo.
- 31/7 - Diante da posição do Gepe de que a torcida visitante só pode ter 5% da carga de ingressos na Ilha do Urubu, o presidente do Botafogo, Carlos Eduardo Pereira, se diz a favor de jogos com torcida única nas semifinais. O Flamengo imediatamente se posiciona contra os jogos com torcida única.
- 11/8 – Flamengo decide levar o jogo de volta para o Maracanã. O clube justificou a mudança devido à demanda por ingressos.
- 11/8 – Antes do jogo de ida, CEP levanta a bandeira branca: "Um jogo muito importante e espero que seja de paz. Um jogo das famílias e que os adversários possam estar no mesmo espaço, mostrando para o Brasil inteiro que o Rio de Janeiro pode realizar um clássico sem maiores problemas"
- 14/8 – Mas o Flamengo aciona o Botafogo no STJD. Clube alega que o rival não respeitou prazo de vendas de ingressos para o primeiro jogo.
- 14/8 – Botafogo e Flamengo se reúnem na Ferj, acertam a questão dos ingressos e o esquema operacional para o primeiro jogo.
- 16/8 – Flamengo divulga valores dos ingressos para o jogo de volta e cobra R$ 150 de alvinegros. Botafogo recorre à CBF.
- 16/8 – Parte da torcida do Flamengo não consegue entrar no Nilton Santos antes do jogo. Rubro-Negro acusa o Botafogo de fechar os portões. PM nega. Houve tumulto.
- 16/8 – Torcedor do Botafogo é detido por injúrias raciais contra familiares do atacante Vinícius Junior.
- 16/8 – Organizadas do Flamengo se enfrentam na saída do estádio. Organizadas do Botafogo se envolvem em confusão com a polícia na saída do Nilton Santos. Oito torcedores foram detidos na confusão.
- 17/8 – Presidente do Botafogo convoca coletiva e repudia ato de injuria racial de torcedor alvinegro: “Não vai manchar nossa história”
- 21/8 – General Severiano tem longa fila por ingressos. Botafogo reclama e diz que o Flamengo também deveria ter colocado pontos de venda no Nilton Santos.
- 21/8 – Clubes não se entendem em reunião na Ferj. Presidente do Botafogo deixa encontra reclamando da postura do Flamengo. Dirigentes rubro-negros afirmam que atenderam todas as demandas feitas anteriormente.
- 22/8 – Agora, na véspera do jogo de volta, Bandeira é quem pede paz: "A gente tem que trabalhar para que as torcidas de ambos os clubes tenham condições de acesso, conforto, e que não haja nenhum tipo de violência. Vamos disputar o jogo dentro das quatro linhas, quem se classificar parabéns, vamos em frente, e vamos deixar esse tipo de briga, de hostilidade para o passado e inaugurar uma nova era"
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