"Gorneou"! Oportunismo, sambadinha e sonho: joia do Bota faz 1º gol profissional

Emprestado, artilheiro nas categorias de base do Botafogo desencanta nos Estados Unidos, tira "pressão" após longo jejum e projeta retorno: "Sei do meu potencial, onde posso chegar"


"Gorneou"! O verbo, criado nas categorias de base do Botafogo para se referir às bolas na rede de Renan Gorne, enfim estreou no profissional... Mas longe de General Severiano e do Nilton Santos. Autor de 31 gols pelo time campeão carioca e brasileiro sub-20 em 2016, a joia alvinegra de 21 anos foi desencantar lá longe, nos Estados Unidos, onde está emprestado até dezembro ao North Carolina e vem jogando a NALS (North American League Soccer), segunda maior liga do país.
Gorne mal chegou ao clube e já virou titular da equipe. No último sábado, aproveitou rebote do goleiro nos acréscimos para garantir o empate por 2 a 2 contra o NY Cosmos, antigo clube de Pelé (veja no vídeo acima), e foi eleito o destaque do jogo. No primeiro gol como profissional, mostrou oportunismo, sambadinha na comemoração e determinação em voltar melhor ao Botafogo.
O primeiro gol não foi da maneira que almejava, vestindo a camisa do Glorioso e levando ao delírio a torcida alvinegra no Nilton Santos. Mas o sonho não terminou, foi apenas adiado. Com contrato no Botafogo até o fim de 2019, Gorne segue acompanhando e torcendo pelo time à distância. E se mantém focado em evoluir para quando, ao retornar ano que vem, concorrer à titularidade.
Gorne e o sorriso de quem fez o primeiro gol como profissional (Foto: Divulgação / North Carolina)

Confira a entrevista completa:

GloboEsporte.com: Como foi marcar seu primeiro gol como profissional?
Gorne: Foi maneiro, cara. Estava meio que ansioso, mas tranquilo ao mesmo tempo porque sabia que o gol ia sair. Sempre busquei muito, e atacante vive de gol. Tentei me manter concentrado, sabia que se fizesse uma boa partida a oportunidade iria aparecer. E pintou a bolinha lá (risos). Gol de oportunismo, atacante tem que estar lá para isso (risos).
E aquela sambadinha na comemoração, hein?
Não sou muito de dançar, não é meu ponto forte (risos). Mas meus pais estavam lá e tudo mais, aí fiz essa comemoração. Pensei: "Vou sambar aqui, mostrar um pouquinho da "brasileiragem". Saiu uma sambadinha marota, ainda bem que foi rapidinho (risos). Foi mais para mostrar que estava feliz na hora, e uma forma de tirar a pressão pelo primeiro gol como profissional também.
Já estava com saudades de marcar? Quando tinha sido o último?
Já! Joguei pouco esse ano, foi meu segundo jogo praticamente. O último gol acho que tinha sido em novembro ou outubro do ano passado, ainda pelo sub-20. Esse ano não estava jogando direito, foram só 15 minutos no Botafogo, 20 aqui na estreia... Aí depois fiz meu primeiro jogo inteiro, e esse foi o segundo no ano. Tomara que eu consiga manter essa média de 0,5, é uma boa média.
Fica a sensação de que esse seu primeiro gol poderia ter sido pelo Botafogo?
Com certeza, foi o clube que me formou, estou lá desde os meus 11 anos. Clube que eu passei a gostar muito, mais do que gostava antes de entrar. Gostaria de ter feito lá no Botafogo, infelizmente não aconteceu, vida que segue. Minha vontade era fazer bons jogos, poder retribuir o carinho dos torcedores comigo. Infelizmente não pude, mas aqui estou tendo as oportunidades que esperava.
Atacante escolheu o número 26 nos EUA, dia do aniversário da mãe (Foto: Divulgação / North Carolina)
Por que usa a camisa 26? Você que escolheu o número?
Quando cheguei aqui me perguntaram qual queria, pedi a 26 porque é o dia do aniversário da minha mãe.
E como está a vida aí nos Estados Unidos? Já se adaptou?
Já, estou bem tranquilo. O inglês está fluindo (risos). Fez um mês semana passada, tenho me adaptado da forma mais rápida possível, não posso demorar porque já já estou voltando. A cidade é legal, já conheço algumas coisas. Moro em um apartamento que o clube ofereceu, eu e mais um jogador (Daniel Barrow). Antes já tinha vindo umas quatro vezes aqui, sabia a maneira de viver mais ou menos, já falava o idioma antes. Por isso, quando apareceu essa oferta, não pensei duas vezes.
O que tem sido mais difícil?
Acho que é na cozinha (risos). Mas até que estou me saindo bem. Meus pais estão aqui essa semana, então sabe como é mãe, né? Quer fazer tudo para o filho. Mas é a primeira vez que estou morando sozinho, tenho que fazer comida e tudo mais da casa, os afazeres domésticos.
Família Gorne na área: o pai Cesar, a mãe Janaina e o irmão Vitor (Foto: Divulgação / North Carolina)
E no tempo livre, o que costuma fazer?
Hoje estou com meus pais, a gente vai dar uma saída. Normalmente, quando eles não estão aqui, vou para a piscina, academia, faço exercícios para ajudar na recuperação muscular. Fico no condomínio mesmo. De vez em quando dou uma voltinha, mas fico mais no videogame.
Como funciona o campeonato aí?
Aqui tem a "Spring Season", que é como se fosse o primeiro turno, e o campeão já está classificado para o play-off (mata-mata) do final da temporada. Aí teve uma pausa de duas semanas e começou a "Fall Season", que seria o segundo turno. O campeão também garante vaga nas finais, junto com os dois times de melhor campanha no agregado para fazer as semifinais.
E o North Carolina está bem?
Nosso time está em quarto na Fall Season e em quinto no geral, com 28 pontos. Temos que encostar um pouquinho mais ali na frente para ter gordura e no final não sofrer tanto. O Miami, que foi campeão da "Spring Season", é o líder com 48; depois vem o San Francisco Deltas com 32, o NY Cosmos com 30 e o Jacksonville Armada com 29.
Com Gorne titular, North Carolina briga por vaga na semifinal da NALS (Foto: Divulgação / North Carolina)
Consegue ver os jogos do Botafogo daí? O que tem achado?
Consigo. Vejo no Premiere, e quando não é Campeonato Brasileiro acompanho pela internet. Vi o jogo contra o Nacional-URU, estava aqui sozinho dentro de casa e botei a caixa de som. Quando o Botafogo fez o gol, comecei a gritar que nem doido. Agora vai ser contra o Grêmio. É continuar com a garra dos jogos decisivos para fazer uma boa quartas de final. Jogando como tem jogado a Libertadores, a possibilidade de titulo é cada vez mais possível.
Você jogou só 12 minutos no profissional do Botafogo, contra o Coritiba. Acha que poderia ter feito algo diferente do que fez?
Tentei dar meu máximo dentro do que o jogo pedia. Estava a mil, tinha acabado de entrar, sabia que era minha estreia, tinha aquela adrenalina toda. Foram os 15 minutos mais loucos da minha vida, teve tudo ali: nervosismo, adrenalina alta, ansiedade de pintar uma bolinha e botar para dentro... Foi muito legal na hora que entrei, quando o locutor falou meu nome, ouvir a torcida gritando. Espero retribuir um dia esse carinho.
Os torcedores do Botafogo ainda te acompanham nas redes sociais?
Sim, mandam mensagens. Quando fiz o gol, um monte de gente mandou no Twitter: "Vai voltar arrebentando para o Fogão". É gente que acompanha, que sempre torceu. Dá uma motivação a mais.
Artilheiro na base, atacante jogou só 12 min no profissional do Botafogo (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo)
Pensa em voltar? Quais são seus planos daqui para frente?
Eu pretendo, sim, voltar. Ano que vem fazer uma pré-temporada de novo, quem sabe receber as oportunidades que gostaria. Sem o Botafogo eu não saberia o que seria futebol. Foi o primeiro time que apostou em mim, não precisei sair para outro clube, consegui chegar ao profissional com meus méritos. Eu amo o Botafogo, então gostaria, sim, de jogar no profissional e quem sabe assumir a titularidade um dia. Por mais que demore algum tempo, é o que almejo.
Acredita que quando voltar e tiver uma segunda chance no time principal do Botafogo já vai se sair melhor?
Com certeza! Vai ser mais tranquilo, já vou estar mais rodado porque vim para cá. Mesmo sabendo que não é o mesmo futebol, cada país tem sua cultura, mas vou estar mais experiente um pouco. Espero que quando voltar possa fazer boas partidas assim como fiz no sub-20 e como estou fazendo aqui. Sei do meu potencial, onde posso chegar. É trabalhar para as coisas darem certo.

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