Sobre futebol e tango na decisão da Libertadores 2016

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"La Copa se mira y no se toca"
(Jaime Pizarro, capitão do Colo Colo campeão da Libertadores 1991)

A famosa frase, um breve resumo das eternas frustrações chilenas na Copa Libertadores, neste ano também servirá como uma antipática recomedação aos times brasileiros e argentinos; costumeiros – e por que não soberbos – finalistas da competição.

Desde 1991 (lá se vão 25 anos...) que a Libertadores não era resolvida sem a presença de pelo menos um deles na final. Mesmo assim, curiosamente os argentinos possuem alguns motivos para se sentirem, ainda que só um pouquinho, parte desta decisão continental.


ATLÉTICO NACIONAL

No caso do Atlético Nacional, a influência argenta vai além do futebol. O hino do clube é, acreditem, um TANGO de Eliseo Marchese, argentino nascido em Avellaneda e que viveu por muitos anos na Colômbia. Marchese escreveu El Tango del Rey em homeagem ao time que conquistou o campeonato colombiano de 1954, o primeiro na história do Nacional (daí a importância). A música, posteriormente, foi ganhando novas versões.

Como há uma explicação para – quase – tudo nessa vida, a própria história da cidade de Medellín revela os motivos que fez o gênero musical, típico da bacia do Rio da Prata, alcançar o privilégio de servir como hino de um dos principais clubes da Colômbia.

Medellín é, além da cidade de la eterna primavera, um reduto nada natural do tango. Inclusive chegou a ser considerada a segunda capital do ritmo perdendo apenas para Buenos Aires. Menção essa que parece um pouco exagerada a simples vista. Segundo historiadores, o tango desembarcou por lá meio que sem querer. A cidade crescia em ritmo vertiginoso no início do século XX. Medellín absorveu uma grande quantidade de mão de obra que fosse capaz de colocar em marcha os projetos estruturais.

E foram estes trabalhadores, nos momentos de lazer, que improvisaram os bailongos onde tocavam os vinis que à época eram produzidos em Nova York. Naqueles discos, um lado vinha editado com músicas tipicamente colombianas, enquanto o outro era exclusivamente de tangos.

As letras das primeiras canções tangueras, que falavam sobre desamores, desilusões e marginalidade, acabaram ganharando adeptos entre a classe trabalhadora que se viu refletida naquelas músicas. As gírias argentinas ali cantadas não eram habituais do castellano falado na Colômbia, mas logo foram sendo incorporadas ao vocabulário PAISA (maneira como são conhecidos os habitantes de Antioquia).


INDEPENDIENTE DEL VALLE

O Independiente del Valle nasceu apenas Independiente. Club Deportivo Independiente, para ser mais preciso. A inspiração, assim como o "tango-hino" do Nacional colombiano, também veio de Avellaneda. Uma homenagem ao poderoso Club Atlético Independiente, o maior vencedor da história da Libertadores.

As cores originais eram o vermelho e o branco, outra reverência ao gigante que excursionou por terras equatorianas e embalou o jovem José Terán em seu sonho de fundar um time de futebol. Como já foi abordado aqui mesmo, em um post anterior, razões comerciais fizeram o Independiente del Valle perder o nome, as cores e um tanto de sua identidade.

Porém, no Equador, a influência argentina não fica restrita ao clube-empresa finalista da Libertadores 2016. Nos últimos anos o país funciona como uma espécie de INCUBADORA de técnicos argentos. Os últimos SETE campeões equatorianos tiveram treinadores argentinos no comando das campanhas vitoriosas. E o técnico de maior sucesso entre eles encontrou o destino inevitável do sucesso. As boas campanhas pelo Emelec levaram Gustavo Quinteros ao banco da seleção equatoriana de futebol no ano passado.

Argentino naturalizado boliviano, Quinteros pegou um Equador arrasado depois da eliminação precoce na Copa do Mundo de 2014. O time, que então era dirigido por Reinaldo Rueda (hoje FLAMANTE finalista com o Nacional) sofria com graves crises de vaidade no elenco. Quinteros apazigou o vestiário e deu uma nova cara à seleção que ocupa a segunda colocação nas Eliminatórias para a Copa de 2018. No meio disso tudo, ainda teve tempo de dar o primeiro triunfo ao Equador jogando em Buenos Aires: um surpreendente 2 a 0 na Argentina.



Como uma espécie de irmão mais velho, a Argentina segue por aí, dando conselhos e servindo como referência (nos assuntos pertinentes ao futebol) para os países de uma outra América, aquela que habla y canta en español.

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