A três passos do Mundial, artilheiro brasuca lidera sonho de sul-coreanos
Maior marcador do Jeonbuk na temporada, Leonardo curte "melhor momento da carreira" e vive expectativa de chegar à final da Liga dos Campeões da Ásia
Em meio ao poderio financeiro da China e do mundo árabe, o futebol sul-coreano está em alta na Ásia nesta temporada. Pelo menos um representante do país disputará a final da Liga dos Campeões do continente e, consequentemente, uma vaga no Mundial de Clubes, já que Jeonbuk e FC Seoul duelam em uma das semifinais do torneio, que terá sua segunda partida disputada na manhã desta quarta-feira. E, do lado do Jeonbuk, um artilheiro brasileiro dá força ao sonho sul-coreano de disputar o mesmo torneio que Real Madrid e Atlético Nacional.
Leonardo é o artilheiro do Jeonbuk na temporada (Foto: Divulgação/Site oficial do Jeonbuk)
Se a equipe da cidade de Jeonju chega ao duelo desta quarta com uma vantagem considerável, depois de vencer por 4 a 1, em casa, no jogo de ida, os torcedores têm muito a agradecer ao atacante Leonardo. O brasileiro marcou dois dos gols do triunfo sobre o Seoul, consolidando-se como o artilheiro do time na temporada - que o jogador de 30 anos considera a melhor da carreira.
- Sem dúvida. Juntando com a Grécia, que foram sete anos e meio, é o melhor momento. Agradeço pelo apoio de todos e fico feliz não só pelos gols, mas por ver que eles ajudaram o clube a estar na semifinal da Champions e a quatro jogos de ser campeão sul-coreano - diz Leonardo, que prega a cautela para o jogo de volta da semifinal, garantindo que o confronto não está decidido.
Os gols do brasileiro, de fato, tiveram forte influência nos bons resultados do Jeonbuk. Leonardo marcou 21 vezes em 48 jogos - oito na Liga dos Campeões e 12 no Campeonato Sul-Coreano, sendo o artilheiro do Jeonbuk nas duas competições. Com a equipe na disputa pelos dois títulos, ainda há a chance de ser o maior marcador nos dois campeonatos, mas o capixaba prefere pensar nas glórias coletivas antes das individuais.
O Jeonbuk chega à reta final da temporada com a oportunidade de voltar a conquistar a Champions da Ásia pela segunda vez em sua história, 10 anos depois do primeiro título, em 2006. Defendendo o clube pelo quinto ano seguido, Leonardo garante que o protagonismo no torneio não é acaso: é, na verdade, fruto de um planejamento que teve como ponto central a inauguração de um centro de treinamento em 2013.
- É um dos melhores da Ásia, onde tem todos os dormitórios, academia, campo fechado, dois campos abertos, gramado muito bom, local para recuperação, piscina, banheira quente, fria. Ali você tem tudo. Acaba o jogo cansado, e no outro dia tem todos os recursos pra se recuperar para o jogo seguinte. O clube te dá tudo, te deixa bem a vontade para fazer o que você pode e também dá conforto para a sua família. Se sua família está bem, dentro de campo as coisas aparecem. Nos últimos anos (da Liga dos Campeões), saímos nas oitavas; ano passado nas quartas. Neste ano, estamos na semifinal.
Para fazer esta campanha histórica, o Jeonbuk precisou superar adversários poderosos. Nas oitavas de final, venceu um duro confronto diante do Melbourne Victory, campeão em 2014. Nas quartas, superou o Shanghai SIPG - de Hulk, Elkeson e Conca - com direito a uma vitória por 5 a 0 na Coreia do Sul, num confronto em que a disparidade entre investimentos se dissipou dentro das quatro linhas.
- Em comparação, o investimento aqui não chega nem perto do que os chineses tem feito nos últimos dois, três anos. É claro que quando a gente escuta que o Hulk foi pro Shanghai, o Alex Teixeira pro Jiangsu, a gente se se assusta um pouco, né. Mas a gente sabe que o futebol é dentro de campo. Nosso jogadores coreanos são bem capacitados, e tem eu, o Ricardo Lopes, o Edu... Não me sinto surpreendido, mas sim feliz por conseguir isso - aponta o atacante.
Leonardo lembra que o Jeonbuk chegou a conseguir uma sequência de 33 partidas sem derrotas recentemente e, além de estar perto da final asiática, está na ponta do Campeonato Coreano, no qual tenta o tricampeonato consecutivo. A campanha no torneio nacional sofreu um forte impacto com a perda de nove pontos por suposta compra de jogos em 2013 - mas a conquista segue no horizonte, já que o time de Jeonju tem 60 pontos, assim como o vice-líder FC Seoul.
O brasileiro garante que não há uma prioridade entre os dois torneios e considera que o elenco do Jeonbuk é capaz de brigar pelas duas competições, uma vez que a Liga dos Campeões só voltará a ter jogos no meio de novembro. Entretanto, não esconde que o diferencial de poder ir ao Mundial chama a atenção, ainda mais com a chance de ter pelo caminho o Real Madrid na competição intercontinental - para isso, a equipe precisaria, depois de ser campeã asiática, vencer o América do México nas quartas de final.
- Seria um sonho realizado não só para a minha carreira, mas para a de todos. Temos a chance de pegar o Real Madrid, se passarmos do América. Sempre que termina a liga nós pensamos em voltar para casa logo, mas esse ano queremos mais é ganhar a Champions e estar no Mundial no fim do ano.
Brasileiro diz que clube teve planejamento para melhorar campanha (Foto: Divulgação/Site oficial do Jeonbuk)
DA FUGA DA CONCENTRAÇÃO DO FLA AO SUCESSO NA ÁSIA
O caminho de Leonardo até o sucesso dentro da Ásia passou por algumas aventuras e escolhas duras. A primeira - e mais decisiva - delas foi deixar para trás a oportunidade no seu time de coração em busca do sonho europeu. Depois de ser formado na base - quando era chamado de Leozinho - e receber uma oportunidade no time profissional da Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo, o atacante recebeu um convite para fazer testes no Flamengo, equipe para a qual toda a sua família torce. Mas, em meio aos dois meses de indefinição junto ao coordenador Andrade e o treinador Adílio, surgiu a chance de jogar no desconhecido Thrasyvoulos da Grécia.
- Abandonei a concentração do Flamengo, fui pra casa no Espírito Santo e, em março de 2005, embarquei para a Grécia em busca do meu sonho. Eu sou flamenguista, então, pensei muito para fazer isso. Abri mão do sonho meu e de meu pai. Abri mão do sonho de ser conhecido no Flamengo para ser mais um desconhecido na Europa - lembra o jogador.
Foram dois anos em seu primeiro clube, antes de ir para o Levadiakos, onde esteve por outras duas temporadas e passou por uma mudança que afetou o resto da carreira: deixou de ser um meia armador, camisa 10, para ser um ponta-esquerda. O técnico queria aproveitar seus chutes precisos e conseguiu extrair de Leonardo o faro goleador demonstrado hoje. O bom desempenho o levou a um dos maiores clubes do país, o AEK, onde jogou mais três temporadas e viveu momentos complicados, chegando a ficar sem pagamento por quase um ano. A crise financeira no time grego o levou a abrir os olhos para uma proposta do Jeonbuk.
- Fiquei um pouco assustado de sair da Europa para um país que eu não conhecia. Mas chegando aqui a gente viu que não era o que imaginava, era extraordinário, tudo do bom e do melhor. Demorei uns meses para me adaptar e acho que a maior dificuldade foi o idioma, pois não são todos que falam inglês. Hoje eu e minha família estamos adaptados. Minha filha Nicole, de 7 anos, vai pra escola internacional, fala inglês e também coreano. A mais nova, Kauane, está na escolinha coreana. A minha esposa, Camila. tem amigos coreanos. E aí gente mistura coreano com inglês e vai se entendendo.
Leonardo ainda tem mais um ano de contrato com o Jeonbuk e diz que "não sabe como será o futuro". Sua intenção, a princípio, é seguir no futebol asiático, com preferência para a própria Coreia do Sul - com um possível retorno tardio ao Brasil como possibilidade remota.
- Para falar a verdade, nunca rolou uma proposta de voltar, mas meu pensamento é continuar aqui na Ásia, na Coreia do Sul. Pela segurança da minha família, a educação das minhas filhas. Então, acho que o futuro deve estar aqui na Ásia ou uma volta a Europa. E uma possível estreia no futebol brasileiro a gente não pode dizer que não. Sempre aberto ao mercado - encerra.
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