Retrospectiva: Neymar tem ano de afirmação com Seleção e Barcelona
Neymar deixou definitivamente de ser um “filé de borboleta” em 2013, conforme já chegou a chamá-lo o técnico Vanderlei Luxemburgo. A um ano da Copa do Mundo do Brasil, o atacante ganhou a Copa das Confederações como protagonista, saiu do Santos para começar a brilhar no poderoso Barcelona e afirmou-se como um dos astros do futebol mundial.
Apesar das conquistas individuais, Neymar precisou enfrentar cobranças logo no início da temporada. O fato de o Santos não ter um elenco tão forte como nos anteriores deixou o astro do time ainda mais pressionado a mostrar serviço. Ele fez o que pôde durante o Campeonato Paulista, criando intriga com defensores de times menores – exatamente como em outras edições – e marcando gols com jogadas desconcertantes.
Na final, no entanto, não foi possível driblar o Corinthians, como havia ocorrido em 2011. O grande rival, algoz em 2009, acabou com a possibilidade de Neymar comemorar um histórico tetracampeonato paulista após vencer por 2 a 1 no Pacaembu e empatar por 1 a 1 na Vila Belmiro. A estrela do Santos passou em branco nas duas partidas decisivas. De qualquer forma, levou o troféu de melhor atleta do Estadual, sendo ainda o vice artilheiro, com 12 gols computados.
Djalma Vassão/Gazeta Press
Ao mesmo tempo em que momento era turbulento no Santos, com direito à demissão do técnico Muricy Ramalho, Neymar já passava a se mostrar incomodado para se destacar em outra equipe: a Seleção Brasileira. O jogador se apresentou para a disputa da Copa das Confederações blindado por Luiz Felipe Scolari, de quem recebeu a camisa 10, e disposto a calar as vaias que ouvira em amistosos. “Podem ficar tranquilos, que a responsabilidade que estão jogando nas minhas costas vai bater e voltar”, prometeu, destemido, em uma rara entrevista naquele período.
A responsabilidade bateu nas costas de Neymar e voltou para as redes dos oponentes da Seleção. Logo na estreia do Brasil, o atacante abriu o caminho para a vitória por 3 a 0 sobre o Japão com um golaço, em 15 de junho, em Brasília. A jogada foi tão plástica que credenciou o brasileiro a concorrer novamente ao Prêmio Puskas (já vencido por ele em 2011) de mais belo gol do ano.
“O meu primeiro gol na competição, contra o Japão, foi muito marcante. Fiquei bem feliz por ter acabado com qualquer conversinha das pessoas. É o lance de que mais me recordo”, sorriu, mais tarde, embora tivesse outras boas memórias da Copa das Confederações. No segundo jogo do Brasil, Neymar marcou de novo contra o México e ainda deu uma fenomenal assistência para Jô fechar o placar em 2 a 0. Diante da Itália, mostrou que tem um repertório vasto ao descomplicar os 4 a 2 com um gol de falta.
Neymar passou em branco na semifinal com o Uruguai. Guardou o melhor para a decisão. Diante de muitos dos seus futuros de companheiros de Barcelona, ele deu o seu cartão de visitas ao liderar a Seleção Brasileira na vitória por 3 a 0 sobre a Espanha, no novo Maracanã lotado. O gol dele saiu aos 43 minutos, após tabelar com Oscar e chutar forte, no alto. A atuação de gala foi coroada com o prêmio de melhor jogador da Copa das Confederações.
Djalma Vassão/Gazeta Press
Àquela altura, os catalães já pareciam ter certeza de que haviam acertado ao disputar euro a euro a contratação de Neymar com o rival Real Madrid. O craque já havia se despedido do Santos antes mesmo da Copa das Confederações, com direito a choro durante a execução do Hino Nacional Brasileiro em uma partida contra o Flamengo, em Brasília. Através de uma rede social, deixou a seguinte mensagem aos santistas, que ainda questionavam as cifras da transação com o Barcelona: “Meu sentimento pelo clube e pela torcida nunca mudará. É eterno! Só um clube como o Santos poderia me proporcionar tudo o que vivi dentro e fora de campo. Sou grato à maravilhosa torcida do Peixe, que me apoiou nos momentos mais difíceis. Títulos, gols, dribles, comemorações e as canções que a torcida criou para mim estarão sempre em meu coração”.
Havia espaço para outras duas cores, além do alvinegro, no coração de Neymar. De azul e grená, o brasileiro atraiu 56.500 torcedores no dia de sua apresentação no Barcelona, quebrando o recorde de cerca de 50.000 fãs do sueco Zlatan Ibrahimovic, de 2009. E ele cumpriu o protocolo de quem queria causar uma boa impressão: arriscou algumas palavras em catalão, foi sorridente e evitou entrar em polêmica com o argentino Lionel Messi, o maior astro do elenco. Chegou até a adotar um corte de cabelo menos ousado, em clara demonstração de que não estava ali para aparecer mais do que os seus renomados companheiros.
Era inevitável, contudo, que os holofotes se voltassem para Neymar. A imprensa espanhola logo começou a explorar as gírias – tudo era “tois” – do brasileiro, seu jeito de dançar para comemorar gols, os amigos inseparáveis e até o namoro com a atriz Bruna Marquezine. Só faltava o atacante corresponder dentro de campo – e rebater quem o chamava de “piscineiro”, por cavar muitas faltas – para se mostrar digno de tamanha atenção.
Neymar confirmou as expectativas. Seu primeiro gol pelo Barcelona ocorreu já na pré-temporada, aproveitando uma típica jogada bem trabalhada pelo ataque catalão para inaugurar o marcador da vitória por 7 a 1 sobre a Tailândia. Antes, ele havia sido coadjuvante em outra goleada impiedosa: por 8 a 0 sobre o seu Santos, no Troféu Joan Gamper, em sua primeira atuação no Camp Nou.
O atacante aumentou o seu respeito na Europa quando se mostrou decisivo em jogos mais complicados. Contra o Atlético de Madri, na final da Supercopa da Espanha – o primeiro título dele no futebol europeu (sem contar o troféu do amistoso com o Santos) – Neymar saiu do banco de reservas para usar a cabeça e garantir o empate por 1 a 1 no jogo de ida, fora de casa. Já no primeiro clássico contra o Real Madrid, foi protagonista com gol e assistência no triunfo por 2 a 1 no Camp Nou. “Estou muito feliz. Foi emocionante marcar no maior clássico do mundo”, definiu.
AFP
A rápida adaptação fez com que Neymar ficasse ainda mais em foco a partir da lesão de Messi. O brasileiro deixou o lado esquerdo do campo e foi deslocado para a função de “falso nove”, que cabia ao argentino. Deu resultado. Contra o Celtic, ele supriu da melhor forma possível a ausência do companheiro com três gols e uma assistência na goleada por 6 a 1, no Camp Nou. Saiu ovacionado de campo – levou consigo a bola do jogo – ao marcar pela primeira vez na Liga dos Campeões. “Cheguei tímido, mas fui me soltando pouco a pouco. Quando a torcida gritou o meu nome, fiquei muito emocionado. Quase chorei”, confessou.
Neymar não parou mais de conquistar fãs. Em 23 partidas pelo Barcelona, marcou 11 gols – seis deles nas suas últimas três apresentações. Além de ter balançado as redes em todas as competições que disputou na Europa (Campeonato Espanhol, Copa do Rei, Supercopa da Espanha e Liga dos Campeões), fez dez assistências. Números que não foram suficientes para colocá-lo entre os três melhores do mundo (Messi, Cristiano Ronaldo e Ribéry ficaram à frente) na Bola de Ouro concedida pela Fifa de 2013, porém encheram de esperanças os torcedores catalães – e brasileiros – para 2014.
Comentários
Postar um comentário