A visão do título na arquibancada: personagens se unem no novo palco
Estádio a 124km do Rio recebe casal de gringos, humorista famoso no meio do povo e tem reações nervosas antes da confirmação da conquista
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Incontestável até pelos rivais, o vigésimo título carioca do Botafogo se tornou marcante, entre outros aspectos, por ter Rafael Marques como herói da final e Seedorf em sua primeira conquista pelo clube. Simultaneamente, estabelece de vez um novo palco como a casa alvinegra pelo menos até o início de 2014, já que o Engenhão, com problemas estruturais, continuará fechado pelos próximos meses. Pela primeira vez, os torcedores encheram o estádio Raulino de Oliveira e colocaram Volta Redonda no mapa dos troféus do campeonato. Entre os mais de dez mil botafoguenses, desfilaram gringos, sósia e até celebridade que preferiu assistir ao jogo contra o Fluminense no meio da galera.
A distância de 124 quilômetros entre o Rio de Janeiro e a Cidade do Aço não foi obstáculo para que o casal austríaco Peter e Barbara Kaltenegger, apaixonados pela festa proporcionada pelo futebol, fosse acompanhar de perto a final do Taça Rio, investindo num passeio incomum, mas aprovado com um largo sorriso. Com poucas palavras em português, se comunicaram através dos gestos com os brasileiros e, esbanjando simpatia, levaram até a faixa de campeão no peito.
Conceituado engenheiro de meio-ambiente da União Européia, Peter estava encantado, embora frustrado por não conhecer o Maracanã. Mas já há um plano traçado: em 2014, voltarão para a Copa do Mundo e sonham ver Brasil e Alemanha na final - seu país não se classificou. E, claro, estará de olho no Glorioso, que conheceu através de Seedorf, durante o Brasileirão.
- Soube que o time de Seedorf iria jogar uma final e resolvi vir - explicou o europeu.
Em um dos primeiros degraus da acanhada arquibancada, atrás do gol onde Seedorf perdeu seu pênalti, estava Hélio de la Peña. Assediado no intervalo, o humorista dispensou o camarote e compartilhou o clima de nervosismo com família e amigos. Além dele, uma dupla sertaneja local, vestida a caráter, e um cover do cantor Roberto Carlos também marcaram presença.
- Falta conforto, mas aqui é mais gostoso - comentou De la Peña.
Da desconfiança ao grito de olé
A parte do estádio destinada aos alvinegros encheu cedo. Preocupadas com o trânsito na região e com a possível dificuldade para estacionar, centenas de pessoas almoçaram nos arredores. Dois ônibus fretados, porém, foram retidos no caminho e só chegaram aos 15 minutos do primeiro tempo. Os mais apressados pularam pela janela para não perder mais nenhum lance. Até os 40, ainda havia gente se acomodando nos assentos restantes.
Antes de a bola rolar, o técnico Oswaldo de Oliveira ainda sentia a desconfiança do público e não teve seu nome gritado - depois dos 11 titulares e do reserva Vitinho - mesmo com a invencibilidade de 14 partidas e chance de título direto. Na verdade, foi até vaiado ao aparecer no telão, destoando do momento amplamente positivo que sua equipe vive.
Antes de a bola rolar, o técnico Oswaldo de Oliveira ainda sentia a desconfiança do público e não teve seu nome gritado - depois dos 11 titulares e do reserva Vitinho - mesmo com a invencibilidade de 14 partidas e chance de título direto. Na verdade, foi até vaiado ao aparecer no telão, destoando do momento amplamente positivo que sua equipe vive.
Esmagadora maioria no estádio, a torcida do Glorioso mostrou impaciência com alguns erros, enalteceu Jefferson após duas boas defesas e irritou-se com os gols anulados (um deles legal).
- Resultado fabricado! - bradou um alvinegro.
- Lodeiro não está bem hoje. Parece que já cansou - opinou outro.
Quando Rafael Marques balançou a rede, o otimismo aumentou, mas não deu a tranquilidade necessária. Foram poucos os que se anteciparam e compraram faixas de campeão mesmo com a vantagem, agarrados na velha superstição alvinegra.
No intervalo, ficou claro um ponto negativo na estrutura do estádio para jogos de maior porte: os poucos funcionários nos bares não foram o suficiente para atender a demanda, e filas imensas se formaram. Alguns tiveram que aguardar mais de 30 minutos para serem atendidos e reclamaram muito da organização. A saída foi recorrer ao bebedouro que continha água morna e à pipoca, que era vendida em áreas diferentes.
Até que os gritos de olé, a partir dos 17 minutos do segundo tempo, foram a senha para entender que o Flu, desgastado, estava batido e dificilmente seria capaz de virar o placar. Então, foi só esperar o apito final de Marcelo de Lima Henrique para vibrar.
A comemoração no Raulino só acabou às 19h, quando os refletores começaram a se apagar. O último jogador a sair de campo foi justamente o herói da tarde, cobiçado para entrevistas com todos os veículos de imprensa. Criticado pela falta de gols em 2012, deu a volta por cima e saboreou seu triunfo. Oswaldo, agora também exaltado, fez uma longa reverência em direção à arquibancada ao descer para o vestiário. Curiosamente, o treinador estava a poucos metros de Rafael, em quem apostou as fichas e aguentou firme a turbulência.
No balanço geral, o palco foi aprovado pelos estreantes.
- Gostei do estádio. É muito arrumadinho, bom para assistir ao jogo - relatou Sérgio Cardoso.
No retorno para casa, antes de chegar à estrada, o trânsito ficou bastante engarrafado. Mas, para os botafoguenses, em pleno buzinaço eufórico, a tristeza não podia nem pensar em chegar - como no refrão da música cantada pela torcedora fanática Beth Carvalho, que completou 67 anos no último domingo e ganhou um presente mais do que especial.
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